quarta-feira, dezembro 12, 2007

Não aguento mais!

Não aguento mais propagandas de carros acelerando em montanhas ensolaradas, roubando vaga num estacionamento (aí é demais né), correndo na cidade para levar a noiva atrasada ao casamento - não aguento mais propagandas de cervejas e as mulheres saradas gostosas na praia e os "bombados" e os velhinhos barrigudos simpáticos não dá mais - não aguento mais propagandas de perfumes e as mulheres mais lindas em festas sombrias tirando a roupa e a voz em off em francês - não aguento mais propagandas de sandálias e as gostosas e os gostosos em comicozinhos desencontros em paqueras sem graça - não aguento mais propagandas de bancos e as mensagens de paz e a consciência ambiental e as razões e as famílias e os amigos felizes!!!

terça-feira, dezembro 11, 2007

Amadurecendo

É engraçado observar a mudança de idéias pela qual passamos na transição da adolescência para a vida adulta....

Na adolescência, no bojo dos questionamentos a tudo e as crises existenciais, há sim (inevitável citar isso) as ilusões inocentes em mudar o mundo - mas sobretudo, questionamentos quanto ao que realmente queremos para nossas vidas em relação à trabalho e relacionamento amoroso; e interesse em questões importantes para a sociedade como um todo - a "dor dos outros" (Susan Sontag)... Especialmente, e para alguns, a chegada da adolescência coincide com a formação de uma visão crítica que muito faz falta à sociedade em geral - ainda que seja uma visão crítica em relação a assuntos prosaicos, como sobre a vida de uma amigo qualquer ou sobre a vida de um parente. Por mais prosaico que possa parecer, a visão crítica de um contamina o outro que contamina o outro e assim por diante.

Mas é curioso notar como esse senso crítico às vezes dá lugar ao conformismo e à leniência. E ver alguns agora se comportarem como consumistas acéfalos focados apenas no trabalho para mais acumular e gastar em shopping centers e carros e motos e mansões estilo "clean" brancas de piso frio e linda paisagem - com seus cachorros de quem mais gostam do que seus próprios filhos! Ops.

Sim, amadurecer é bom, mas emburrecer...

quarta-feira, dezembro 05, 2007

Philip Roth

Estou lendo mais um livro de Philip Roth, "O Homem comum".

Nunca havia me identificado tanto com um autor - e talvez muitos dos homens da minha geração se identificam ou se identificariam com ele. Sua narrativa é simples e sofisticada, e em alguns de seus livros ele trata de questões velhas num contexto contemporâneo (como a obsessão sexual potencializada pela ditadura dos corpos perfeitos e pela liberação sexual) com muita inteligência e ironia. Seus personagens são escravos da carne mas não são autômatos boçais e psicóticos; não estão percorrendo o submundo no encalço de qualquer mulher que surgir à sua frente. São pessoas normais com suas fantasias, angústias e ressentimentos.

2 personagens principais dos 3 livros que li, são publicitários bem sucedidos vivendo sob a mesma contemporaneidade em que vivemos, e isto quer dizer tudo o que vocês sabem muito bem. Um deles está no ocaso da vida, após 3 casamentos, 3 filhos e um caso com sua enfermeira, e ao mesmo tempo em que passa em revista os mais marcantes fatos de sua existência, no presente se depara e enfrenta a chegada da velhice e a iminência da morte. Um homem que sacrificou um relacionamento sólido e maduro em nome do êxtase da carne, vê-se agora diante da finitude e o perecimento dos corpos...

Ah, falar de nós, Philip Roth sabe falar como ninguém.

terça-feira, novembro 27, 2007

Retomando

Há uma semana tenho um computador em casa - no trabalho não consigo escrever, pois lá é onde toda a minha ansiedade e insegurança alcançam seus mais altos níveis - e isso coincidiu com o retorno da indignação.



Mas só indignação não basta para escrever... E eu não consigo captar a essência dessa mistureba de materialismo, consumismo, cinismo, imaturidade, arrogância, falta de envolvimento, etc... Pois é disso que queria escrever, pois são essas coisas que passam por minha cabeça ao deitar na cama para dormir - é disso que tenho paixão em discutir.





Relendo a série de contos que escrevi há 3 anos atrás, percebo que trato das "Estórias brutas e curtas de uma sociedade decadente" com moralismo, de lá de meu lugar, num andar superior; e obviamente, para sentir aquela sensação de conforto quando diminuímos os outros. Ainda que perceba tudo isso, e tentando novamente, procurando por uma nova chance, não consigo escrever sobre a tal "sociedade decadente" sem que tudo pareça moralista.

Se é assim, melhor escrever sobre minha própria racionalização solitária e inútil...


Para quem chegou até aqui: -Foi mal!

terça-feira, agosto 28, 2007

Aniversário que já passou

Este blog completou um ano no dia 07 de agosto passado. E para comemorar um ano no ar, revisitei todos os textos publicados nesse ano, e escolhi um para republicar; que se não é do qual mais gosto, ainda que seja um dos preferidos, é aquele que mais representa os sentimentos que fundaram este blog...
Quem é você?
“As pessoas não apenas têm a impressão de que as possibilidades de encontrar satisfação na vida são infinitas, como também são encorajadas a ser uma espécie de inventoras de si mesmas, isto é, elas são supostamente livres para escolherem quem querem ser. Mas, nessa sociedade altamente individualizada, que prioriza as liberdades individuais sobre as causas de um grupo, o indivíduo enfrenta um ansioso e provocante dilema: Quem eu sou para mim mesmo?” Renata Salecl em “Sobre a felicidade: ansiedade e consumo na era do hipercapitalismo".
São tantas as possibilidades e as opções, tantos os estilos de vida ofertados, tantas as máscaras que usar e tantos os modelos em que se encaixar. Você, certamente, se interessa pelos mais variados assuntos e temas. E isto, de uma forma que não saberia explicar, lhe causa sensações opostas de angústia e euforia.Hoje, por exemplo, qual o assunto que procura? O que está buscando? Notícias de lugares longínquos, de cidades da região, vizinhas, de outros planetas?Talvez esteja interessado nos resultados dos jogos do final de semana. Uma receita de Chowder de Mariscos da Nova Inglaterra? Hum, sei. Está sim procurando, o que dizem os ensinamentos do Feng Shui, sobre a posição certa de colocar a cama e o espelho em relação à porta de seu quarto, e o efeito das cores das paredes sobre nossa saúde.Talvez queira notícias sobre a queda da Nasdaq, o valor do Kwanza em relação ao dólar e a taxa de natalidade em Luanda. Poderíamos falar da safra da soja, da produção de girassóis em Holambra, da incipiente produção de biodiesel como combustível alternativo.E se você for um velho senil, apenas interessado no valor do banho-tosa para o seu fiel companheiro? Aí talvez você também esteja interessado no destino dos seus sobrinhos-netos, filhos daquela sua paixão da juventude que sua avó proibiu por ter o inexorável defeito de ser seu primo de primeiro grau.Desconfio que você seja um dentista procurando um curso de aperfeiçoamento em Cirurgia e Traumatologia Buco-maxilo-facial. Desculpe, a essa hora você não está procurando nada que tenha a ver com sua profissão, quer apenas se distrair com qualquer porcaria como esta.Pode ser que você esteja passeando pela europa, no melhor estilo mochilão, tenha parado num cyber café, se conectado ao “messenger”, todo animado para conversar com seus amigos que ficaram, contar da noite passada.Pode ainda ser que você seja o amigo que não foi viajar, pois não tinha tempo, muito menos dinheiro, ficou aqui para trabalhar, ainda mais agora que você se apaixonou pela recepcionista. Há uma possibilidade, e a isso ninguém pode se contrapor, de que você seja o patrão deste último, porque é certo de que se ele ficou trabalhando é porque tem um patrão, e esse pode ser você, que está navegando pela internet, depois de mais uma discussão com aquele sócio com quem você tanto se empolgou no começo da sociedade, e que agora parece ser a pessoa no universo com a qual você menos tem afinidades, tanto profissionais como pessoais.Talvez seja um dia chuvoso, e por qualquer motivo, ainda que o próprio fato de estar chovendo seja o motivo mais óbvio, não sabe bem por que não sente a mínima vontade de sair de casa.Está procurando ler qualquer coisa mesmo, qualquer coisa que te sirva, não no sentido de utilidade prática, mas que te sirva nem que seja apenas no exato momento em que está lendo.Está à procura de fotos de mulheres nuas, óbvio demais para uma pessoa tão interessante como você. Óbvio demais até para ser considerada uma tentativa, minimamente interessante. Desculpa!

terça-feira, junho 26, 2007

Aguardem

Este Blog estará em férias até que eu consiga comprar um novo computador...

Abraços!

quarta-feira, junho 20, 2007

O Texto para o Blog foi roubado, e os textos sobre os roubos ficaram

Há um texto no meu notebook que deveria ter sido postado aqui essa semana.
Acontece que meu notebook não está mais comigo. Está nas mãos daqueles que renderam minha noiva e entraram na minha casa para nos roubar.
Reviraram tudo, e passaram batido diante de centenas de livros - um deles um livro de contos de Rubem Fonseca, especialmente de contos que prenunciaram essa onda de violência que estamos vivendo - passaram batido diante de textos que falavam deles.
Eles ali, a situação em curso, e as histórias ...



P.S.: No próximo post, tentarei refletir mais sobre essa situação que muitos de nós vivenciamos e vivenciaremos.

segunda-feira, junho 11, 2007

Esperança

Coloco aqui um aforismo de Sébastien-Roch Nicolas de Chamfort, que encontrei no Blog do Piza.

Cabe muito bem a nós, que estamos cheios de esperança.

"A esperança não passa de um charlatão que não pára de nos enganar; e, para mim, a felicidade só teve início no momento em que a perdi. De boa vontade eu colocaria na porta do Paraíso os versos que Dante colocou na do Inferno: Lasciate ogni Speranza, voi ch'entrate (Deixai toda esperança, vós que entrais)."

sexta-feira, maio 25, 2007

No que estamos pensando?

Na revista Piauí de maio saiu Mais um... (sic) artigo sobre a famigerada revolução de maio de 1968, que teve seu epicentro na França de De Gaulle. Já li intermináveis textos que tratam desse momento histórico, contudo, esse foi o que me deu a mais clara visão das variáveis que contribuíram para que o barulho de um grupo de estudantes abastados tivesse marcado tão profundamente a história recente.
Tony Judt, um historiador inglês, inicia seu artigo falando da decisiva explosão demográfica ocorrida nos pós-guerra e da inédita quantidade de estudantes que havia na Europa, e segue apontando, entre outras coisas, a evolução da teoria marxista e da convergência dos estudantes e o proletariado. Entre a reinvidicações dos trabalhadores, o choque cultural de gerações, a própria teoria marxista, a empolgação com as revoluções nos continentes asiático e americanos, a “santificação” das figuras de Mao e Che Guevara, e os movimentos de oposição à guerra do Vietnã, resta a vontade desses dois grupos socias tão diferentes, a elite estudantil e o proletariado, de mudança, especialmente do modus vivendi, do estilo de vida – uma mudança mais conceitual do que prática, o que talvez tenha sido determinante para que, como afirma o historiador, os contemporâneos desses anos tenham supervalorizado esse período.
Bom, tracei essas poucas linhas para chegar aqui, agora ...
Não temos teorias em grande evidência – a não ser que algum maluco venha a elaborar uma mixórdia dos livros de auto-ajuda e a chame de teoria – não temos ícones revolucionários a adorar. Não, não ache que este é Mais um... (sic) texto saudosista, inocente exaltador da geração anterior e autômato proferidor de maledicências do presente desencantador.
No que os jovens de hoje estariam a pensar?
Aparentemente, estariam eles preocupados com suas carreiras num mercado tão competitivo, numa “era dos executivos”, e quando não estivessem trabalhando, estariam andando pelos “shoppingui centers” da vida, comprando celulares que são Palm Tops, ou são Palms tops que são celulares?
Um panorama nada promissor, não acha? Bom, pelo menos a imensa maioria dos nossos contemporâneos pensa que sim: estamos indo pra merda – exatamente o oposto dos jovens dos anos 60, que acreditavam estar fundando um novo estilo de vida.
Não sei se é bem assim, nem se é bem assado.

sexta-feira, maio 04, 2007

Uma poesia

Desde o primeiro Post deste blog, em 07 de agosto de 2006, não publico uma poesia aqui.

Não há sentido, por nós
sentido.

A barriga, que empurra
a vida.

Há desejos, pulsões e desejos
em tudo.

A compra; e não há
satisfação
possível,
há dor.
A dor, não
supérflua,
mas primeira, visceral.

quinta-feira, abril 26, 2007

Escrita de si

Márcio Mariguela, psicanalista, escreve o seguinte email:"Oi Mais um,
para lhe ser franco é o primeiro blog que visito. O que é fascinante nesse espaço virtual é a possibilidade daquilo que Foucault nomeou como escrita de si. Parece-me que isso vc faz com estilo. Um abraço e boas férias."
Admito que pesquisei sobre o conceito da escrita de si, de Foucalt, e não entendi muita coisa. Alguém poderia me ajudar?

De onde vem essa onda?

De onde vem esse onda? / Essa praga da ansiedade que só estraga!

Desde o início da adolescência cometi pequenos poemas, projetos de romance e outros textos sem forma. Com um pouco mais de 20 anos, cometi uma série de contos que intitulei: “Estórias brutas e curtas de uma sociedade decadente”. Do título ainda gosto. Encaminhei para várias pessoas, obviamente, em busca de elogios, ainda que eu acreditasse que críticas seriam “bem vindas”.
Entre interessados idiotas e afins, havia aqueles perspicazes e um deles teceu comentários que muito me marcaram, e ainda hoje procuro entendê-los, e compreender minha reação à eles. Dizia, entre outras coisas, que meus textos eram como carros superpotentes acelerando numa pequena garagem. Havia sim, muito esforço, muita força para nada.
Uma outra analogia me vem à cabeça: Um cantor que se esforça, solta a voz, mas não vence a mediocridade de seu talento. Não?
Ora, cabe aqui ao leitor aborrecido um aviso: Escrevo este texto exclusivamente para mim.
Também me ocorre que me preocupo demais com o que pensam ou esperam de mim. Será por isso a“ força”, a insistência em escrever – para que me admirem?
Não sou cínico o suficiente para escrever coisas do tipo: “Escrever para mim é como respirar” ou “Escrever é minha terapia”.
Hoje não sinto mais tanta revolta. Eu passava dias, ou melhor, meses, revoltado com o comportamento dos outros, sua ignorância, hipocrisia, egoísmo, modismos, etc... Eu gritava, jurava que me vingaria de todos eles através da arte – mal sabia que não havia arte.

quinta-feira, março 22, 2007

Maria Antonieta

Sexta passada fui ver o novo filme da Sofia Coppola, Maria Antonieta. Importante deixar claro que sou suspeito para falar de seus filmes - me encantei desde logo com seu primeiro filme, o sombrio "Virgens Suicidas".
Depois veio "Encontros e Desencontros" com suas sutilezas profundamente humanas.
E agora, a estória da jovem princesa austríaca que foi enviada para casar-se com o futuro rei da França, e que acabaram sendo decapitados pelos revolucionários de 1879.
Sofia mistura um visual de filme de época com edição moderna, música clássica com rock contemporâneo, para nos mostrar a face humana desta rainha cercada de lendas, especialmente a de que, diante dos miséráveis enfomeados exigindo pão, mandou-lhes que comessem brioches, expondo ao ridículo a alienação em que vivia. Claro, Maria Antonieta era acusada de viver uma vida de luxos exorbitantes numa época em que o reinado estava em crise, e o império caminhava para a ruína. A mistura de elementos clássicos, a fotografia, a música, causam um efeito interessante e a face humana de Antonieta se revela, da mesma forma que os jovens milionários das grandes metrópoles que caem numa balada sem fim também são seres humanos frágeis, críticos às vezes e desprezíveis noutras.
Não é um filme qualquer...

segunda-feira, março 12, 2007

Chapeuzinho Vermelho na Linha Amarela

Caros leitores:

O texto abaixo é a colaboração de mais um... engenheiro, especialista em grandes obras de construção civil, o qual nos presenteou com a seguinte análise do trágico acidente nas obras da Linha Amarela do Metrô.
Ele será designado neste e em futuras colaborações, como: Mais um... engenheiro.
Chapeuzinho Vermelho na Linha Amarela

Passado já algum tempo, não temos a solução para o caso da Linha 4 do Metrô de São Paulo e nem os culpados de tal desastre. Como tudo no Brasil, os problemas não se resolvem e, ainda mais, são postergados até que o povo se esqueça. E como mero observador preocupado com a justiça de nosso país, arrisco dar um palpite sobre tal tragédia.
Sabe de quem é a culpa do acidente? É claro, a culpa é do contrato. Parece brincadeira, mas sim, a culpa é de um maço de papéis. Lógico que papel não fala, não ouve, mas carrega conteúdo. Conteúdo de suma importância para as partes envolvidas.
A engenharia brasileira, bem reconhecida no mercado globalizado, busca a atualização para se manter competitiva neste segmento. E nada melhor do que copiar e seguir modelos e paradigmas do primeiro mundo. Contratos de preço global “turn key”, modelos EPC “Engineer, Procurement & Construction” para gestão de projetos que consiste na total coordenação das atividades em empreendimentos como elaboração de projetos, construção, fiscalização, sistemas construtivos e de qualidade, ou seja, tudo mesmo é operacionalizado por quem apresenta o menor preço nas licitações. Não é de se estranhar que tudo é muito lindo e claro na teoria, mas será que funciona no nosso Brasil?
Para quem não sabe, obras grandiosas com esse mesmo tipo de contrato também apresentaram sérios problemas como Hidrelétrica de Campos Novos – SC e Complexo Energético Rio das Antas (CERAN) – RS, mas não houve divulgação pois não houveram vítimas fatais. Que hipocrisia, não?!!!
Costumo comparar este problema a outro exemplo determinante em nossa trajetória política. Nossa querida e amada “Democracia”, importada também de nossos primos ricos. Será que o Brasil está ou já esteve algum dia preparado para tal “Democracia”?
Como um povo, em sua quase totalidade analfabeta, consegue opinar alguma coisa ou escolher seus representantes políticos, se estes não têm interesse na evolução e desenvolvimento cultural de seu povo? Não existe interesse para investimentos na Educação, pois se a população estivesse preparada e educada, não escolheria os mesmos para representá-la.
Seguir exemplos e modelos que deram certo, nem sempre são as melhores soluções. Como na lenda de Chapeuzinho Vermelho, ir pelo menor caminho nem sempre significa seguir pelo caminho mais seguro.

terça-feira, fevereiro 27, 2007

Big Brother

Como não pensar no Big Brother - a despeito da associação com o mundo criado por George Orwell, em 1984, entre outras associações - como uma moderna edição das arenas romanas, a platéia decidindo vida ou morte aos gladiadores? Se num tempo menos sofisticado tínhamos os leões a devorar os gladiadores, num tempo de neurose monetária e celebritites, temos os paredões que condenam os infelizes à privação dos R$ 1.000.000,00 e das câmeras que tanto fazem pela "carreira" dos Big Bobos, como se vê Sabrina, Graziela Massafera, etc...
O público de ontem e de hoje, cria seus "queridinhos", seus vilões, e assim purga suas frustrações mais íntimas punindo uns, glorificando outros... É das mais primitivas catarses, assim como o é também a contemplação artística, a catarse na sala de cinema.
Mas são emoções bem diferentes...

segunda-feira, fevereiro 12, 2007

Escrevo para que?

Às vezes me pego questionando se escrevo porque tenho o que dizer, ou se é um ato de carência, egoísta... e quando esse pensamento evolui e chega a insinuar algo de "celebritite", sinto nojo, me sinto deplorável!
É verdade que se sente um orgasmo quando uma idéia - com suas sutilezas e nuances, repleta de fragmentos de outras idéias - toma corpo em palavras escritas. Mas não sei explicar a origem desse orgasmo.

quinta-feira, fevereiro 08, 2007

Meus caros


Meus caros, vivemos sim a era da pós-utopia, e não sei o que virá em seguida...
Minha geração não chegou a sonhar com os ideais socialistas, pois antes mesmo de criarmos nossas convicções, o muro de Berlim já havia caído e o fracasso dos regimes comunistas já estava exposto ao mundo, ainda que alguns, especialmemente aqui no Brasil, orgulhosamente se negassem a enxergar o fracasso de um regime, como o pai preconceituoso se nega a perceber a homossexualidade do filho.
Minha geração surgiu num mundo já desencantado. Até mesmo a adolescência, fase marcada pelos idealismos, passou mergulhada em delírios e revoltas de boutique, regados a drogas e orgias vãs.
Sei que já confundi minhas frustrações com a decadência que nos cerca, e olhei para tudo sob as lentes de meu ressentimento, blasfemando todos os seres humanos, símbolos e mitos num niilismo covarde. Outros, não menos covardes, apoiam-se em crenças apocalípticas ou se concentram no capitalismo mais selvagem.
Embora eu possa separar minha legítima indignação da minha covardia diante da vida, continuo praguejando e afirmando a podridão do status quo, gerador de seres dia a dia mais egoístas e desencantados, ou talvez, mais desencantados e depois egoístas...
A política em nosso país dispensa maiores comentários, aliás, até nos países desenvolvidos vemos governos desastrosos, e qualquer alternativa já nasce ridicularizada, tanto o desencantamento que nos tomou os corações. Eu que sempre adorei futebol, e não porque seja Corinthiano (sic), vejo um futebol medíocre jogado nos gramados do mundo inteiro, sem graça, sem emoção no mais emocionante dos esportes.
As artes tornaram-se coisas impossíveis: “Se tudo é arte, nada é arte”.
A economia encontrou-se no maior dos paradoxos: há de crescer para se sustentar, e para se sustentar há que excluir. Ela cresce a cada dia, e a cada dia há mais exluídos da própria economia, e se a maioria dela não participa, não é uma legítima economia.
Não duvidem: minha ousadia toca ainda outras áreas. A medicina. Que médicos especialistas são esses? Será que ainda não perceberam que seu objeto de estudo é um ser orgânico, palavra que remete a organizado, e portanto, interligado?
O jornalismo, ah, esse, coitado, tão desvalorizado.
Quem mais posso praguejar? Eu mesmo? Sim, posso praguejar a mim mesmo, mas isso posso deixar para a terapia.
E como não falar em desilusão? Como não falar em sentimento de “cada um por si”, não se preocupar apenas com nosso conforto desconfortável?

quarta-feira, janeiro 31, 2007

Vidente do amor

Vi o seguinte anúncio num poste da Avenida Pacaembu em São Paulo: “Vidente do amor. Conquiste a pessoa amada. Pagamento após resultado.”
Não pude deixar de ficar matutando nisso.
Primeiro que meus conhecimentos místicos dizem que vidente é aquele que tem a capacidade de prever o futuro, possui a mediunidade de vislumbrar acontecimentos antes mesmo de tornarem-se fatos. Acontece que o tal anúncio sugere que a nossa vidente fará com que a pessoa desejada se apaixone pelo seu cliente, e isso não é vidência, e sim, (como devo chamar?) mandinga, bruxaria, simpatia. Devo aconselhá-la a atualizar seu anúncio. Talvez: “Simpatia do amor”, “Bruxa do Amor”ou até mesmo, “Mandingueira do amor”.
Mas o melhor de tudo é que o pagamento está condicionado aos resultados. Como assim? O cliente (mal amado) assina uma promissória que tem o pagamento condicionado à conquista do fulano de tal, RG n˚ tal, endereço tal? Ou a vidente confia tanto em seus poderes, a ponto de que seus clientes voltarão felizes ao seu consultório (como é o nome do local em que a vidente atende?) com o cheque na mão e o sorriso de satisfação no rosto? Óbvio, com seus poderes mediúnicos ela enxergará o que está acontecendo realmente e então cobrará seus clientes. Ou será que a explicação está em seu anúncio? Como ela é uma vidente do amor, ela faz antes a simpatia e logo em seguida uma previsão dos resultados, e em caso de previsão de sucesso o cliente realiza o pagamento? Ora, não deixa de ser um pagamento após o resultado, já que seus poderes lhe permitem que possa trazer os resultados futuros para o presente.
Pensando melhor, fico com a opção de que a tal vidente, ou melhor, a mandingueira, estabelece uma exemplar relação de confiança com seus clintes, e obviamente, autoconfiança em seus poderes, que não deixa de ser uma lição para nós, desconfiados.
Aliás, desconfiança certamente prevista por nossa mandigueira, e talvez “trabalhada” por ela, uma vez que isso tenha aumentado seus potenciais clientes consideravelmente, com tantos solteiros por aí a conquistarem seus amores.

quarta-feira, janeiro 24, 2007

Não tenho nada para dizer...

Na verdade, não tenho o que dizer, e ainda que eu tenha procurado...
Não consigo aproveitar meus insights depois que a minha "cura" passa. O outro dia de manhã, é um outro dia: a consciência está domada por simples tarefas cotidianas, e o dia anterior nem chega a ser uma lembrança levado que é no turbilhão!
Não tenho o que dizer, mas acho que disse.

suspeitinha

E agora vem todo mundo criticar as autoridades brasileiras que investigam o acidente que envolveu o Boeing da Gol e o Jato Legacy por terem suspeitado precocemente dos pilotos americanos.
Ora, suspeitas são suspeitas simplesmente porque o são. Não há porque suspeitar do Clodovil como responsável pelo acidente, pois até onde nós saibamos, este não é piloto de avião nem sequer sobrevoava aquele espaço aéreo, muito embora tenha decolado nas últimas eleições, aliás, suspeitamos sim dos homossexuais como responsáveis por elegê-lo. Frise-se, apenas suspeitamos.

terça-feira, janeiro 16, 2007

Modernidade e cidadania (breve reflexão sem juízo)

Um texto do Caderno de domingo do Estadão, o Aliás, entre outras assertivas, defendia a tese de que a modernidade desvaloriza a cidadania. Ora, o que entendo por modernidade não pode estar desvinculado do consumismo exacerbado e do individualismo desses tempos.
Cidadania é a qualidade do indíviduo de direitos perante a coletividade, diante do Estado enquanto governante. É através dos direitos de cidadão que o indivíduo se enxerga e se compreende pertencente à coletividade.
O homem moderno, gerador e consumidor de riquezas, projeta no consumo todas suas expectativas e frustrações, e o traz para todas as esferas de sua vida, e para citar um exemplo, basta observar a relação que um drogado numa festa rave estabelece com a droga; esta, alçada à condição de objeto de consumo privilegiado, aliás, algumas delas tornando-se verdadeiras marcas, cada uma com seu próprio logotipo e apelo.
Já o individualismo é mais difícil de perceber. Não é fácil para nós, dessa geração pós anos 60, perceber o quanto individualistas somos, simplesmente porque não conseguimos conceber qualquer outra maneira de agirmos, uma vez que o capitalismo nos obriga (aqui cabe lembrar que o homem é soberano e portanto, não é absolutamente obrigado a nada) a produzir riquezas sem as quais nos sentimos tolhidos de uma liberdade que na verdade não é liberdade - um homem verdadeiramente livre pode conceber suas próprias verdades, seus próprios conceitos, e assim, posso afirmar que a verdadeira liberdade é aquela praticada em nossos pensamentos.
Ora, não é difícil se convencer que um homem, focado em seu poder de consumo, em êxtase com as delícias do pragmatismo e conforto modernos - e num raciocínio quase absolutamente simplista - e assim voltado inteiramente à sua individualidade, não se importará com a coletividade e portanto não terá condições de exercer cidadania.
Nosso desafio é conseguir conjugar modernidade e cidadania.