terça-feira, fevereiro 27, 2007

Big Brother

Como não pensar no Big Brother - a despeito da associação com o mundo criado por George Orwell, em 1984, entre outras associações - como uma moderna edição das arenas romanas, a platéia decidindo vida ou morte aos gladiadores? Se num tempo menos sofisticado tínhamos os leões a devorar os gladiadores, num tempo de neurose monetária e celebritites, temos os paredões que condenam os infelizes à privação dos R$ 1.000.000,00 e das câmeras que tanto fazem pela "carreira" dos Big Bobos, como se vê Sabrina, Graziela Massafera, etc...
O público de ontem e de hoje, cria seus "queridinhos", seus vilões, e assim purga suas frustrações mais íntimas punindo uns, glorificando outros... É das mais primitivas catarses, assim como o é também a contemplação artística, a catarse na sala de cinema.
Mas são emoções bem diferentes...

segunda-feira, fevereiro 12, 2007

Escrevo para que?

Às vezes me pego questionando se escrevo porque tenho o que dizer, ou se é um ato de carência, egoísta... e quando esse pensamento evolui e chega a insinuar algo de "celebritite", sinto nojo, me sinto deplorável!
É verdade que se sente um orgasmo quando uma idéia - com suas sutilezas e nuances, repleta de fragmentos de outras idéias - toma corpo em palavras escritas. Mas não sei explicar a origem desse orgasmo.

quinta-feira, fevereiro 08, 2007

Meus caros


Meus caros, vivemos sim a era da pós-utopia, e não sei o que virá em seguida...
Minha geração não chegou a sonhar com os ideais socialistas, pois antes mesmo de criarmos nossas convicções, o muro de Berlim já havia caído e o fracasso dos regimes comunistas já estava exposto ao mundo, ainda que alguns, especialmemente aqui no Brasil, orgulhosamente se negassem a enxergar o fracasso de um regime, como o pai preconceituoso se nega a perceber a homossexualidade do filho.
Minha geração surgiu num mundo já desencantado. Até mesmo a adolescência, fase marcada pelos idealismos, passou mergulhada em delírios e revoltas de boutique, regados a drogas e orgias vãs.
Sei que já confundi minhas frustrações com a decadência que nos cerca, e olhei para tudo sob as lentes de meu ressentimento, blasfemando todos os seres humanos, símbolos e mitos num niilismo covarde. Outros, não menos covardes, apoiam-se em crenças apocalípticas ou se concentram no capitalismo mais selvagem.
Embora eu possa separar minha legítima indignação da minha covardia diante da vida, continuo praguejando e afirmando a podridão do status quo, gerador de seres dia a dia mais egoístas e desencantados, ou talvez, mais desencantados e depois egoístas...
A política em nosso país dispensa maiores comentários, aliás, até nos países desenvolvidos vemos governos desastrosos, e qualquer alternativa já nasce ridicularizada, tanto o desencantamento que nos tomou os corações. Eu que sempre adorei futebol, e não porque seja Corinthiano (sic), vejo um futebol medíocre jogado nos gramados do mundo inteiro, sem graça, sem emoção no mais emocionante dos esportes.
As artes tornaram-se coisas impossíveis: “Se tudo é arte, nada é arte”.
A economia encontrou-se no maior dos paradoxos: há de crescer para se sustentar, e para se sustentar há que excluir. Ela cresce a cada dia, e a cada dia há mais exluídos da própria economia, e se a maioria dela não participa, não é uma legítima economia.
Não duvidem: minha ousadia toca ainda outras áreas. A medicina. Que médicos especialistas são esses? Será que ainda não perceberam que seu objeto de estudo é um ser orgânico, palavra que remete a organizado, e portanto, interligado?
O jornalismo, ah, esse, coitado, tão desvalorizado.
Quem mais posso praguejar? Eu mesmo? Sim, posso praguejar a mim mesmo, mas isso posso deixar para a terapia.
E como não falar em desilusão? Como não falar em sentimento de “cada um por si”, não se preocupar apenas com nosso conforto desconfortável?