quarta-feira, agosto 30, 2006

Tempo de crise

Eu-Texto tenho vida própria.
Eu poderia citar os mais diversos argumentos para defender minha autonomia, inclusive é pungente minha indepedência em relação ao autor, uma vez que o elo primordial do ato somente se consuma com o leitor. Digo mais: ambos, autor e leitor, assumem papéis igualmente essenciais, ainda que, em dias tão individualistas, o leitor tenha passado por dias difíceis, sentindo-se inferior e inseguro diante de tantos holofotes jogados em cima do autor.
Há quem diga que meu despertar auto-consciente somente se tenha dado a fim de que eu possa, digamos, colocar as coisas em seus devidos lugares. Mas deixarei por ora essa questão de lado, haja vista que eu me sinto forçado, antes de mais nada, a defender minha própria condição. E antes que eu prossiga em minha defesa, tenho que admitir que isso tudo encerra, ao menos para mim, uma questão inabrandável: Meu grito existencial não seria o ato individualista por excelência?
Você leitor, terá que chegar à sua própria conclusão.
De qualquer maneira, eis minha defesa: Um texto literário, penso Eu-Texto, é uma forma de comunicação com você leitor, que estabelece um vínculo profundo, pois esse vínculo é também constituído por sua própria consciência que confere à mim peculiaridades de sua natureza. Eu e você formamos uma simbiose indissociável de nossas individualidades.
Não me venham meus concorrentes, quais sejam quaisquer outros objetos que possam ser apreendidos por seu conhecimento, me acusar de auto-promocão e de arrogância. A televisão, obviamente que também enquanto é apreendida por você, carrega os traços de sua personalidade, entretanto, é tudo muito mais acabado, e a facilidade que primeiramente possa te cativar, acaba por limitar seu poder de imaginação.
Fui longe demais, dirão alguns.
Com a minha experiência, que tenho tratado esses anos todos com os mais diversos homens, escritores e leitores, eu diria que, ainda que hajam outras formas de comunicacão – verbalizada, visualizada, ouvida, e outras que misturam os dois anteriores, os três ao mesmo tempo – eu estabeleça relações mais intelectualizadas.
Sou também mais democrático, atendo aos pobres, aos ricos, aos hipócritas, aos justos, aos mentirosos, aos ditadores, enfim, a todos aqueles que pensam, pois mesmo os analfabetos podem ser autores de mim, basta que alguém escreva as palavras ditadas.
Para aqueles que estejam jogando baixo comigo, pensando em termos artísticos, nas outras formas de arte; uma vez me escreveu Hegel de mim:
“ ... a Plástica é o signo do Espírito. Ela exprime a vida criadora, mas paralisada pelo tempo e pelo espaço. A música, ao contrário, revela-nos diretamente o movimento íntimo da alma, com seus desejos e sentimentos eternos e sua aspiração ao infinito. A poesia, finalmente, é a Música plástica. Ela pinta e esculpe por meio de frases dotadas de mobilidade e por sons que se sucedem, harmoniosamente ritmados. Ela é a arte suprema e exprime o pensamento por imagens.”
Se você me achar um pouco maçante, perdoe-me, é que senti uma irresistível vontade de falar de mim... pois desde que me descobri enquanto tal, tenho sentido uma certa angústia indefinida por palavras escritas.

quarta-feira, agosto 23, 2006

Prólogo do livro inexistente

O “Estórias Brutas e Curtas de uma Sociedade Decadente” contem algumas estórias cáusticas e outras nem tanto. O título e as tragédias aqui narradas trazem consigo um perigo latente assumido: um verniz de arrogância e pessimismo incorrigível. Para suavizar tal perigo, principio utilizando-me de um artifício um tanto quanto óbvio, mas nem por isso desnecessário.
Esclareço que não deixo de assumir muitos dos traços - que a princípio possam parecer repugnantes – dos personagens que ganham vida nas páginas deste livro. Digo a princípio, pois são traços que almejam a beleza da imperfeição humana, que assumem sem temor seu caráter eminentemente humano, como diz o título nietzschiano: “Humano, demasiado Humano”.
Não nego também um desejo de desestabilizar, pois um ser - seja ele uma sociedade, ou, ainda, uma única pessoa – somente quando se vê envolto em inúmeros questionamentos, arrisca-se nos tormentos da evolução.
De maneira alguma alimento uma visão utópica da sociedade, ocorre que nossa essência é constituída de um impulso que nos impele a buscar incessantemente a evolução. É como se vivêssemos o amadurecimento do gênio da espécie: transpostos os obstáculos materiais (ou pelo menos, aparelhados de inumeráveis ferramentas para isso), enfrentamos agora os obstáculos do espírito.
Nos deparamos diante de uma terrível epidemia depressiva. Infindáveis patologias da psique são diagnosticadas a cada dia, e os jovens (e aqui me incluo) nunca consumiram tanta droga como nos dias de hoje. É evidente que nesse ponto os arroubos imediatistas e a era do consumismo colaboraram para o alastramento desta busca frenética por prazer imediato.
Há muito se diz que vivemos a era da pós-utopia. Somos a geração perdida num caos atemporal, desprovida de padrões, minada por uma terrível ofensiva de informações e sufocada por uma ansiedade que entorpece lentamente, como o cigarro que intoxica dia-a-dia o fumante.
Não se trata aqui da sentença emitida por aquele que, de seu plano superior e orientado por nobres valores, aponta as deformidades do outro, para um lugar fixo. Não! O personagem Carlos, do conto “A silhueta de Narciso”, que inclusive, no mais não passa de uma estória repleta de clichês, é a mais simplória imagem da vaidade do intelectual revoltado e ferido por uma sociedade que primeiro negou-lhe seus prazeres, e depois negou-lhe os valores que ele aprendeu a valorizar, à custa daquela primeira negação.
Independente de qualquer mesquinhez, convido-o, leitor, a refletir comigo acerca de comportamentos típicos da atualidade. Talvez eu tenha cometido equívocos, exageros, ou tenha me deixado levar por algum ressentimento de alguma de minhas frustações. É provável! Apesar de tudo, sei que tudo isto servirá de algo, pois os livros, todos eles, sempre servem.
A publicação deste livro jamais pretendeu salvar nada nem ninguém. É apenas o reflexo de minhas frustações e devaneios, e então, uma centelha da luz que forma a imagem nesse espelho crítico em que a sociedade se reconhece.
Afinal, o livro inexistente é aquele que contêm em si, potencialmente, todos aqueles livros que poderiam ter sidos escritos.
O livro que teria esse prólogo, nasceu e morreu em minha imaginação, ele existiu enquanto minha abstração. Eis as idéias!

quarta-feira, agosto 16, 2006

Quem é você?

“As pessoas não apenas têm a impressão de que as possibilidades de encontrar satisfação na vida são infinitas, como também são encorajadas a ser uma espécie de inventoras de si mesmas, isto é, elas são supostamente livres para escolherem quem querem ser. Mas, nessa sociedade altamente individualizada, que prioriza as liberdades individuais sobre as causas de um grupo, o indivíduo enfrenta um ansioso e provocante dilema: Quem eu sou para mim mesmo?” Renata Salecl em “Sobre a felicidade: ansiedade e consumo na era do hipercapitalismo”.

São tantas as possibilidades e as opções, tantos os estilos de vida ofertados, tantas as máscaras que usar e tantos os modelos em que se encaixar. Você, certamente, se interessa pelos mais variados assuntos e temas. E isto, de uma forma que não saberia explicar, lhe causa sensações opostas de angústia e euforia.
Hoje, por exemplo, qual o assunto que procura? O que está buscando? Notícias de lugares longínquos, de cidades da região, vizinhas, de outros planetas?
Talvez esteja interessado nos resultados dos jogos do final de semana. Uma receita de Chowder de Mariscos da Nova Inglaterra? Hum, sei. Está sim procurando, o que dizem os ensinamentos do Feng Shui, sobre a posição certa de colocar a cama e o espelho em relação à porta de seu quarto, e o efeito das cores das paredes sobre nossa saúde.
Talvez queira notícias sobre a queda da Nasdaq, o valor do Kwanza em relação ao dólar e a taxa de natalidade em Luanda. Poderíamos falar da safra da soja, da produção de girassóis em Holambra, da incipiente produção de biodiesel como combustível alternativo.
E se você for um velho senil, apenas interessado no valor do banho-tosa para o seu fiel companheiro? Aí talvez você também esteja interessado no destino dos seus sobrinhos-netos, filhos daquela sua paixão da juventude que sua avó proibiu por ter o inexorável defeito de ser seu primo de primeiro grau.
Desconfio que você seja um dentista procurando um curso de aperfeiçoamento em Cirurgia e Traumatologia Buco-maxilo-facial. Desculpe, a essa hora você não está procurando nada que tenha a ver com sua profissão, quer apenas se distrair com qualquer porcaria como esta.
Pode ser que você esteja passeando pela europa, no melhor estilo mochilão, tenha parado num cyber café, se conectado ao “messenger”, todo animado para conversar com seus amigos que ficaram, contar da noite passada.
Pode ainda ser que você seja o amigo que não foi viajar, pois não tinha tempo, muito menos dinheiro, ficou aqui para trabalhar, ainda mais agora que você se apaixonou pela recepcionista. Há uma possibilidade, e a isso ninguém pode se contrapor, de que você seja o patrão deste último, porque é certo de que se ele ficou trabalhando é porque tem um patrão, e esse pode ser você, que está navegando pela internet, depois de mais uma discussão com aquele sócio com quem você tanto se empolgou no começo da sociedade, e que agora parece ser a pessoa no universo com a qual você menos tem afinidades, tanto profissionais como pessoais.
Talvez seja um dia chuvoso, e por qualquer motivo, ainda que o próprio fato de estar chovendo seja o motivo mais óbvio, não sabe bem por que não sente a mínima vontade de sair de casa.
Está procurando ler qualquer coisa mesmo, qualquer coisa que te sirva, não no sentido de utilidade prática, mas que te sirva nem que seja apenas no exato momento em que está lendo.
Está à procura de fotos de mulheres nuas, óbvio demais para uma pessoa tão interessante como você. Óbvio demais até para ser considerada uma tentativa, minimamente interessante. Desculpa!

quinta-feira, agosto 10, 2006

É a lama, é a lama!

Como silenciar diante da atual crise ético-político-social? É merda para todo lado!
Se antes sabíamos que corrupção existia, hoje ela é declarada, e pior, nem ao menos nos sentimos em condições de criticá-la. Não se enganem: o corrupto não é um monstro que olha no espelho e diz: - Hoje vou desviar verba das ambulâncias, foder a vida de milhares de enfermos, deixá-los na mão, pois não estou nem me lixando para todo esse "povo" que vive na lama. Estou preocupado é com meu bolso. Otários!
Não é assim! Ele é como eu ou VOCÊ, quando você deu aquele golpe na seguradora de seu carro, como quando arrumou aquele bom emprego no serviço público para um amigo (mas que era um bom profissional), quando comprou aquele toca-fitas roubado, etc... Tudo isso, lógico, porque não dá para sobreviver de outra maneira. Somos todos corruptos!
Tragédia dos Comuns: o que eu faço, tem uma mínima repercussão, mas todos pensando assim, vira essa merda em que estamos metidos!
Vivemos o sentimento de: "cada um por si". E cada um usa das armas de que dispõe. O PCC é reflexo de anos de descaso de todos nós com a desigualdade e situação social. O governador Lembo jogou a culpa em cima da classe média que trata mal seus empregados. A elite intelectual do país, leia-se, artistas, jornalistas e outros, criticaram mordazmente tal afirmação. Vejo nessa afirmação dois lados. Se por um lado é verdade que o governador demonstrou mais uma vez nossa mania de jogar a culpa das mazelas nos outros, e ainda, excluiu a culpa dos próprios desfavorecidos, por outro lado, parece-me, ao menos, um indício de que a classe média começa, timidamente, a realizar a saudável auto-crítica. Marcelo Tas, em seu blog, acusou o governador de hipócrita. Se admite sua culpa, é hipócrita, se nega, é arrogante. Suspeito que haja outras cores a pintar a realidade que não somente o preto e o branco.
Diante do descaso de uns, arrogância de outros, visão achatada de muitos, difícil vislumbrar uma solução. É a lama, é a lama!

segunda-feira, agosto 07, 2006

Poesia? Que nada!

À Merda!

Observe estas palavras gastas: Eu sou! Não sei se as acho... ridículas ou magníficas...
Quem pode me dizer, quem sou? Então, do que me importa... o que eu não sou?
Chega! Chega de hipocrisia, de sonhos juvenis, de teorias econômicas, de ideologias políticas, de dialética marxista, de psicodelias tardias... à merda com a consciência ambiental!
Às vezes, andando por aí, observando pessoas, milhares delas caminhando eretas, olhar fixo no horizonte, homens de três bocas, mulheres de seis peitos... algumas falando... falando... falando sem parar.. . passa pela minha cabeça, que ainda que estejam caminhando... sorrindo... comprando... trabalhando... transando... fodem como a galinha que se move em espasmos sem vida!
E os celulares então! Tocando... tocando... em todos os lugares... nos carros em trânsito... nas igrejas em júbilo... à toa nos bares... na cabeceira da cama ao lado onde dois corpos ardem... não servem para comunicar!
À merda com os produtos light, diet, os leites desnatados...
Quero distância dos sucos de abacaxi com hortelã, das academias de robôs, de yoga de manhã...
À merda com os sem-terra, Che-Guevara, Almodóvar... vinhos californianos...seriados americanos, à merda!
Niilismo? Será o niilismo uma teoria ou uma atitude?
Ah, à merda com as teorias também.
Ah, e já ia me esquecendo... à merda também com estas letras mal escritas!