quinta-feira, dezembro 14, 2006

FÉRIAS

Este blog está em férias até a segunda quinzena de janeiro, porque blogueiro também merece férias!

Agradeço a todos aqueles que aqui entraram e continuam entrando...

quarta-feira, dezembro 06, 2006

Encontro

A realidade é especialmente angustiante, sobretudo em dias tão favoráveis a nos incutir ansiedades; ansiedades ao chegar em casa e o medo de um assalto, ansiedades ao chegar no trabalho e resolver um número cada vez maior de problemas - dos outros, nossos, e também de ninguém. Ansiedades ao nos sentarmos à frente da televisão, propagandas de cervejas numa praia repleta de homens e mulheres saradas, gordinhos engraçadinhos, ou carangueijos animados. Ansiedades numa consulta ao médico a fim de saber o que são aquelas manchas que apareceram nos lóbulos da orelha. Ansiedades ao acordamos com o alarme do celular que toca uma primeira vez, e na função “soneca” toca uma segunda vez, uma terceira... e em seguida tomamos o café e passamos diante do jornal pelo qual se paga uma boa quantia como quem passa diante da samambaia. Ansiedades parados no semáforo e dando algum dinheiro para quem nos pedir, naquele momento em que somos colocados diante da miséria dos outros.
Já estava cansado de tanta ansiedade? Engraçado: a ansiedade tem a característica de nos deixar despertos, e tomar o lugar do cansaço. Então, eu arriscaria: você dificilmente estaria cansado do meu papo da ansiedade se você ansioso estiver pelas palavras que aqui virão.
Mas nem tudo é só ansiedade. Há encontros nessa vida. E, especialmente nessa nossa vida, os encontros podem se multiplicar com a internet, por exemplo. Mas falo aqui do encontro com o outro que nos toca (eu, ou você e o outro) naquilo que nos faz seres humanos – encontro raro, mas que não se qualifica pela intensidade (como diz uma poesia de um gigante que todo mundo adora colocar no profile do orkut). É um encontro que pode ser o mais singelo, mas que nos revela mais: nós mesmos.
Esses dias eu tive um encontro singelo. Mandei para o outro a primeira edição da revista Piauí, para o Ceará. Provavelmente eu nunca o encontrarei pessoalmente (essa palavra vai nos valer muito nesses dias virtuais). Mas foi um encontro.

terça-feira, novembro 28, 2006

Palpites do Mestre Palpiteiro em: Nós e nossas crianças

Na minha família sou conhecido pelo estresse desde a adolescência, fase notória pela instabilidade emocional e os rompantes de estresse. Desde lá, sou um estressado típico a todo momento lutando por ordenar, inutilmente, o caos inerente à vida. Não ganho nada com isso, a não ser que dias a menos esteja entre um dos seus desejos.
Um estudo realizado pelo canal infantil Nickelodeon revelou que as crianças brasileiras são as mais estressadas do mundo, e sentem-se inseguras inclusive em relação a assuntos, digamos, muito mais distante de nós, brasileiros, como o medo de desastres naturais e da gripe do frango, no qual superaram as crianças chinesas que conviveram com a epidemia. Vi, sim, na revista Veja, baah, mas isso é papo para outra hora.
O estresse das nossas crianças tem origem no comportamento dos adultos, obviamente, e esse é aqui o meu alvo. O que esse estudo revela? O que nós adultos estamos fazendo para deixar nossas crianças assim tão estressadas? Se considerarmos que as crianças absorvem facilmente os estímulos dos adultos, porque nós, brasileiros, estamos deixando nossos problemas chegarem até as crianças?
A psicóloga citada na Veja elenca dois principais motivos para explicar o estresse das crianças brasileiras: o clima de catástrofe que se instalou no país, com os telejornais e outros programas televisivos dando mais ênfase para tragédias do que para aspectos positivos, por exemplo.
Até aqui tudo bem, entretanto, permitam-me a pretensão, gostaria de adicionar a perguntinha basiquinha: - Por que os brasileiros criaram todo esse clima de tragédia, considerando que a Indonésia, para ficar num exemplo fácil, viveu há pouco tempo uma tragédia de proporções muito mais graves do que qualquer tragédia viviva na história nacional? E aqui me lembro de uma: a perda da copa do mundo de 1950 para o Uruguai.
O brasileiro tem maior inclinação para a catástrofe? Se considerarmos o alarde que se fez nos dias dos ataques do PCC, quando explosões de rojões causaram corre-corre no centro de diversas cidades, e havia mais de 100 ônibus queimando quando na verdade havia 1 na cidade vizinha, chegaremos à seguinte conclusão: Sim o brasileiro tem inclinação para a catástrofe.
Nos sentimos mais inseguros simplesmente porque não conseguimos diferenciar o que realmente nos importa, o que realmente ameaça nosso bem estar. Por que nossas crianças se preocupam mais com a Aids do que as crianças africanas, onde a contaminação é infinitamente maior? Não sabemos diferenciar o que realmente nos ameaça, sentindo exatamente que tudo nos ameaça, talvez porque nos preocupemos mais com o porvir do que com o agora. Talvez nossa histórica “malandragem” nos faz querer prever problemas para, atevendo-os, poder dar um “jeitinho” e nos safar incólumes de tudo, e o resultado é esse: preocupação!
Outro motivo elencado pela psicóloga foi o fenômeno do alargamento da adolescência, que termina mais tarde, mas que, principalmente, começa mais cedo, tirando nossas crianças precocemente daquela inocência e ilusão que tanto caracterizam a infância. Para reforçar este argumento, eu não citaria a exposição excessiva das criancas ao mundo adulto, pois não creio que as crianças inglesas e americanas, por exemplo, sejam menos expostas ao nosso mundo.
E, mais uma vez “pedantemente”, pergunto: Por que nossas criancas entram mais cedo na adolescência, vulgo, emburrescência? Será que é porque valorizamos demais aspectos que só podem ser desfrutados por adultos, como o dinheiro ou a beleza e seu poder de massagear o ego, especialmente as meninas que querem ser logo classificadas como gostosas? Desta forma, a criança quer logo entrar no mundo adulto para também poder desfrutar dessas e outras coisas.
Bom, como Mestre Palpiteiro, permito-me mais um palpite: A superproteção que os pais dispensam aos filhos, fazendo a lição de casa para eles, não os permitindo dormir na casa do amiguinho, entre outras, faz com que se sintam mais e mais inseguros em relação à vida em geral. Mais um motivo.
O problema não está com as crianças ou com a maior ou menor exposição aos nossos problemas, e sim com nós adultos e nosso comportamento que, obviamente, afeta e sempre afetará nossas crianças.

segunda-feira, novembro 13, 2006

Mais um... desenganado

“Produzo, logo existo”
Talvez você desconfie que, iniciando um texto deste modo, eu seja um anti-capitalista, um socialista desenganado da vida depois que o Muro de Berlim caiu e a podridão do regime soviético ficou exposta para todo o mundo, ou após a frustração sofrida com o governo Lula.
Nada disso.
Então talvez você esteja desconfiado de que eu seja um hippie fora de época, um neo-hippie ou um adepto dessas pseudo-religiões que impregnaram muitas e muitas mentes.
Para não dizer que você nem mesmo chegou perto, confesso que de desenganado eu tenho um pouco, mas um desenganado crônico, desses desenganados congênitos que já nasceram reclamando, e que a realidade não frustrou em lhes oferecer inúmeros motivos para reforçar seu “desenganamento”, ainda mais assistindo a esta crise economo-político-ético-socio-antropo-ludopédica.
Ora veja, um país dividido por um abismo social que faz as classes média e alta tão ignorantes da realidade da periferia como a rainha francesa que teria sugerido brioches aos esfomeados que imploravam por pão – imaginem só se não estivéssemos na era da informação? Um país que apresenta um dos maiores números de cirurgias plásticas e uma das menores rendas per capita - só pode ter algum parafuso fora de lugar.
Não se tratam de monstros materialistas que pisam na cabeça dos pobres nas ruas (embora alguns cheguem perto disso, pois nem sequer cumprimentam o motorista do táxi ou a faxineira do prédio).
Não alimento uma visão maniqueísta do mundo. Sei que, atualmente, de consumista compulsivo ou exagerado materialista todo mundo tem um pouco (essa é para aqueles que odeiam as generalizações).
Entretanto, há dias em que a indignação me faz esquecer das minhas próprias torpezas, das minhas próprias contradições, e uma visão crítica e até neurótica se apodera de mim, mostrando-me o absurdo e o cinismo em que vivemos, absurdo que ganha matizes mais fortes nesses dias desencantados.
O homem contemporâneo é o homem que perdeu a inocência. Dificilmente nos sensibilizamos com uma notícia, mesmo com as instantâneas notícias da televisão ou da internet. Nada mais nos afeta, nada mais nos dá esperança. Vivemos por uma individualidade que dia a dia se enlouquece num jogo em que abundam ferramentas, mas que nos escapou o sentido.
Como escreveu Daniel Piza em um texto sobre os sentidos do romantismo: “Em kafka, por exemplo, é justamente por precisar tanto de esperança que o ser humano mata a esperança”. Então, agora, certamente em Kafka o ser humano, depois de ter matado a esperança, agonizaria num mundo pós-utópico.
Tenho a terrível sensação de que vivemos um erro; o ser humano é como aquele que simplesmente não deveria estar mais ali, um jogador num jogo de cartas, que mesmo após ter sido derrotado insiste em permanecer jogando.
Não disse que se tratava de um desenganado crônico?

quarta-feira, novembro 08, 2006

O prazer em ler os clássicos

Estou lendo “Em Busca do Tempo Perdido” de Marcel Proust, uma das maiores obras literárias da Literatura Francesa, comparado ao nosso “Dom Casmurro” de Machado de Assis, e ao que representa “Ulisses” de Joyce para A Literatura Inglesa. Daqueles livros que muitos conhecem mas poucos leram – eu mesmo ainda não li o “Ulisses”, confesso – e para os quais a grande maioria torce o nariz, sem compreender o motivo de sua importância, julgando-os enfadonhos e quase inelegíveis.
O livro de Proust certamente exige um esforço maior do leitor, com seus períodos intermináveis e exaustivos, uma maratona de palavras em estilo rigosamemente construído, que obriga o leitor a voltar inúmeras vezes para bem compreender o sentido pretendido pelo autor.
Proust renega o realismo e nos mergulha num turbilhão de análises psicológicas e enlaces subjetivos, não se confundindo com o fluxo de consciência característico de Virginia Woolf. Mal analisando, Proust nos revela a consciência dos personagens mais em ações do que em pensamentos, enquanto Virginia Woolf, ao contrário, nos revela mais em pensamentos do que em ações.
Voltando ao mote propriamente dito deste texto, tentarei transmitir a você, leitor – missão quase impossível e por isso mesmo arriscadíssima – o prazer em ler as obras literárias em geral, e mais especificamente, os grandes clássicos da literatura mundial.
A fruição de uma obra de arte e a leitura de um livro como “Em busca do Tempo Perdido” e suas minuciosas descrições de lugares, coisas e pessoas, que ao leitor desavisado podem parecer enfadonhas, nos faz viajar dentro de nós mesmos, em identificações insuspeitas e profundas, que nos surpreendem no instante mesmo em que as estamos fruindo, de modo muitas vezes incompreensíveis, intraduzíveis, aliás, inconscientes na maioria das vezes, não nos permitindo sequer poder explicar o fascínio que nos provocam.
Ler nos permite conhecer o outro na plenitude de seu ser, desnudo, destituído dos grilhões que a sociabilização nos submete, o autor focado no mais profundo de sua individualidade, e de tal modo focado no individual e subjetivo, que acaba por se conectar com o que tem de coletivo e universal.
Ler é conversar com pessoas de outras épocas, de outras culturas. É viajar parado como nos prometem os mais fascinantes delírios. E ler os clássicos é empreender as maiores viagens nos mais loucos delírios, guiados pelos maiores Mestres da técnica de transportar espíritos.
Para não ficar apenas em argumentos sutis e coquetes, digo mais: especialmente em dias em que a imbecilidade e a escassez de conteúdo predominam nas ruas, ler os clássicos é uma raríssima oportunidade de se comunicar com pessoas inteligentes, que fogem ao senso comum e nos presenteiam com pérolas de raciocínios, sensibilidades e experiências.

quarta-feira, novembro 01, 2006

Votando em 29 de outubro de 2006

Votar no último final de semana foi um gesto quase banal, desprovido de sentido como o é – pelo menos para mim – um dia como sete de setembro, data comemorativa como outras que diante de nós, cidadãos – mais uma palavra que não me faz muito sentido – a cada ano que passa, simplesmente passa.
Não é o caso do eleitor que não acreditava na vitória de seu candidato, tampouco é o caso do eleitor que não tinha um candidato. Havia uma eleição, havia um eleitor e seu candidato.
Não se trata daquele que não se interessa, que diz ter nojo de política. Também não se trata de apontar o dedo para as mazelas do sistema político. Não faltará quem o faça. Não se trata daquele jovem que busca uma “idealogia para viver”. Dessas já não fazemos idéia. Não há ideologia possível onde não há consciência do “coletivo”. Também não se trata daquele que defende a anarquia, pois nossos governos são desgovernos e nossa “ordem” já é uma desordem.
Saí de casa mais para realizar atividades banais como ir à padaria ou alugar um filme. Entrei no colégio como quem faz um passeio que guarda um sabor mais por encontrar pessoas com as quais normalmente não se cruza. Na fila da minha seção, encontrei um ex-vizinho dos tempos da infância, e conversamos sobre muitas coisas, não de política. Estávamos ali como quem cumpre mais uma obrigação, não um direito.
Um presidente se elege, mas não há com o que sonhar, pelo que lutar. Não há quem defenda princípios ou esboce qualquer reação ao status quo. Um partido há de sair derrotado, mas não há um projeto político derrotado. Não há projeto político num mundo em que não há mais motivos para a vida em comum.
Alguns ficam satisfeitos com o resultado da eleição, mas não ficam felizes – não há perspectiva de felicidade. Outros se dizem revoltados, e deixam claro que as palavras perderam mesmo o sentido. Os conceitos esvaziaram-se.
Voltei para minha casa, mas não estava interessado no desempenho de meu candidato. Liguei a televisão, e o assunto era eleição. Que eleição? Mais políticos discursando, mais análises...

sexta-feira, outubro 20, 2006

O boteco da esquina

Tenho frequentado um boteco a 3 quadras da minha casa. Devo esclarecer que nunca fui um típico frequentador de botecos, desses que há muito não sabem o que é assistir um jogo de futebol em casa. E ainda que eu não seja um habitué de bares em geral, volta e meia eu sento numa mesa de bar para dar uns goles em boas e más companhias, afinal, ninguém está nem nunca estará livres destas últimas.
Admito também que acabei parando num boteco - muito ou pouco - decerto influenciado por essa “moda” dos botecos. Não é de ontem que eles têm sido frequentados por jovens, digamos, mais favorecidos; o que demonstrou que os botecos ganharam doses de glamour.
Por causa disto ou daquilo, o que interessa nessas mal traçadas é o fato de que afinal acabei sentando numa mesa de boteco. Que me desculpem os bares-não-botecos, os botecos são divertidíssimos.
O brasileiro se auto-denomina, com orgulho, como um povo heterogêneo, de grande miscigenação e diversidade cultural, e portanto, sem preconceitos. A realidade nos mostra que as coisas não são bem assim. No entanto, sentado num boteco, pensei: admitindo a possibilidade da sociedade brasileira como heterogênea, estar sentado num boteco é o primeiro ato de diversificação cultural. É o ato ideal de toda essa diversidade anunciada, pois, onde mais se imagina que se possam encontrar os sujeitos das diversas classes sociais, separados por nossas cidades partidas? Onde mais podemos conviver com o outro senão no boteco da esquina?

A despeito dessas e outras idéias que surgiram, uma noite me marcou mais que todas, não pelos pensamentos que me propiciaram, mas sim pela emoção que vivi. Eis que surgiu um violão na mão de um botequeiro de uns 60 anos, que tinha o apoio vocal de um negro desses de quem se diz, negão, somada a voz de um botequeiro calvo de uns 35 anos, desses que se curva “jeitoso” em direção ao violeiro.
Estou certo de que não se tratava de um trio de talentosos músicos, mas uma alegria tão genuína tomou conta do boteco que a música era embalada pelos sorrisos e estes pela música.
Uns pediam samba, outros Djavan, e o violeiro só sabia modas de viola, e a moda de viola embalava o bar de forma precária, é verdade, mas a sinceridade da emoção do trio nos embalava em emoções que nos ensinam que ser humano no século XXI é ter que brincar em casa quando criança, ter contas para pagar na maturidade; e apesar de tudo, emocionar-se no mais prosaico dos botecos de esquina.

quarta-feira, outubro 11, 2006

Palpites do Mestre Palpiteiro, Doutor em Pescoçar

Não sou psicólogo, psicanalista, nem muito menos psiquiatra. Tampouco trabalho com psicólogos, psicanalistas, nem jamais com psiquiatras. Também não trabalho em nenhum serviço de assistência social ou qualquer outra coisa que se assemelhe. Portanto, o que lhe direi a seguir, leitor, não é nada mais do que simplesmente baseado em minha experiência de mestre palpiteiro, doutor em pescoçar a vida dos outros. Meu campo de pesquisa são as pessoas com as quais cruzo pelas ruas, ou ainda em artigos de jornal com especialistas do assunto, mas que por serem artigos de jornais não passam de superficiais análises do tema.
A depressão é hoje uma epidemia.
Não descarto a possibilidade de que a conclusão a que cheguei seja distorcida simplesmente porque a depressão não era sequer classificada como patologia há alguns anos atrás. Esta possibilidade torna-se cada vez menos coerente para mim a cada dia que passa e a cada olhar que cruza o meu olhar.
De qualquer maneira, ao olhar nos olhos de muitas das pessoas, no trabalho ou em qualquer outro lugar, o que não é o caso de minha casa (estou morando “quase” sozinho), me deparo diante de olhos fugidios, ou em outros casos, sob um olhar de arrogância e felicidade ostensiva, revela-se um ser em pânico, especialmente nos pequenos silêncios que o deprimido almeja em evitar.
Uma frente de fatos que me reforçam tal convicção é baseada no encontro com pessoas as quais revelam quaisquer traços de depressão ou pânico; sendo que a outra frente de fatos talvez não seja tão óbvia como a primeira, mas que igualmente pode fazer sentido.
É verdade que a rotina e o modus pensandis das pessoas não lhes dá tempo para meditarem acerca de suas vidas, e consequentemente, questionarem a vida que estão levando.
A segunda frente dos fatos me vem da constatação de que vivemos um período de grande individualismo, ao ponto de as pessoas optarem por não terem filhos, simplesmente porque não podem suportar a idéia de terem que abdicar de algumas condições em favor da atenção que devem aos filhos, atenção esta, aliás, exigida em nossa legislação.
Ora, uma vida que se sustenta unicamente na obtenção de mais vantagens, confortos e prazeres para si mesma, em algum momento não fechará a conta, simplesmente porque tais necessidades jamais se satisfarão.
Não estou tratando de simples tristeza, de um desânimo passageiro ou da agridoce melancolia; esta é dorzinha que acaba por nos revelar um fogo brando, que arde ardidinho e faz da vida uma comunhão com a beleza.
É o que observo por aí. Ainda que eu não seja psicólgo, psicanalista e muito menos psiquiatra.

quinta-feira, setembro 28, 2006

Para comer e conversar... não basta só começar!

“Comer bem na companhia de amigos inteligentes é o que há de mais civilizado; cria uma aproximação que torna a vida mais agradável, pelo aprendizado e pelo humor, e em que jamais falta respeito à individualidade. A arte da conversação tem se deteriorado, devido à pressa e ao narcisismo dos tempos. Ontem, felizmente, pude presenciá-la durante quase quatro horas, jantando no Allez, Allez!, restaurante merecidamente considerado a revelação do ano pela "Vejinha". Se eu estivesse sozinho e chateado, os ótimos pratos já seriam motivo para despachar a possibilidade de maus eflúvios mentais. Mas, como nos filmes de Woody Allen e livros de Louis Begley, os prazeres do paladar dão a senha para uma química entre corpo e palavra, para uma forma especial de convívio - aquela que não passa nem pela submissão ao coletivo nem pela agressão do egoísmo. Restaurar é preciso.” Texto extraído do blog do Daniel Piza, cujo link se encontra nessa página.

Não é de hoje que encontro com pessoas que adoram conversar, mas adoram tanto, que a conversa logo se transforma em um monólogo narcisista. Aliás, não se engane, são seletivos com sua platéia; não é para qualquer um que eles desejam vomitar sua verborragia... há os escolhidos para presenciar o espetáculo.
Concordo com o título do texto do Piza: “Comer e conversar, uma mesma arte”, e para aqueles que se esqueceram que conversar tem uma dinâmica de troca, em que um fala, outro ouve, outro fala, um ouve, fala, fala, outro ouve, ouve, outro fala, um ouve, e fala, lembrar-lhes-ei que a arte de comer também subentende “troca” e não um espetáculo para demonstrar o quanto “ele cozinha bem”, “entende de vinho” ou “sabe como ninguém apreciar uma boa comida".
O pior é que o narcisista patológico (que me perdoem os psicólogos, estou eu também metido a diagnosticar patologias psicológicas) acaba por não conhecer o outro, pois ele não ouve a opinião dos outros e não conhece o paladar dos outros, pois quando o outro ia começar a falar, as cortinas se fecharam.
E não é só isso. A ânsia de ser o centro das atenções, de ser invejado para existir e suas variações, revela uma angústia que é característica de uma sociedade desumana, na qual as fraquezas são evitadas até a última instância, ou ainda, são consideradas somente em relação ao outro.

A frase também citada no referido blog: “livre das úlceras que vêm da preocupação com uma dieta balanceada”, de A.J. Liebling, também é pertinente para a questão, já que hoje presenciamos um verdadeiro império da vida saudável. É a típica frase que eu gostaria de ter escrito.

quarta-feira, setembro 27, 2006

"Otimistas são pessimistas mal informados..."

(como diz uma brincadeira do leste europeu, e que ao menos é uma alternativa às frasinhas "bunitinhas" e politicamente corretas que impregnaram a internet)

quinta-feira, setembro 21, 2006

A Trepada da Cicarelli

Que grande alvoroço a divulgação do célebre vídeo promoveu.
Antes de mais nada, gostaria de parabenizar o talentoso paparazzi, por sua espetacular perícia nas filmagens, dignas de uma mão talentosa, a edição felicíssima que transformou o vídeo numa novela apimentadíssima de se fazer inveja a muitos dramaturgos por aí.
Acalmem-se, vamos ao debate:
Duas pessoas transando numa praia?
Não deve ser a primeira vez que duas pessoas transam numa praia e, provavelmente, não será a última.
E o extraordinário interesse pela trepada marinada?
Lá dizem uns: Mas são celebridades!
Concordo. Desde sempre que celebridades são celebridades justamente pelo interesse que despertam em nós, pobres mortais anônimos.
E o espetacular alcance que as imagens da célebre trepada correram mundo afora, em poucos minutos?
A era da informação, que eu chamaria de informatização, é caracterizada justamente por tal velocidades de informação.
Mas então, qual o problema com a trepada da Cica? Perguntam outros cá.
O problema é a inveja desproporcional de milhares de homens, que já não sentem tesão nas anônimas trepadas com suas parceiras anônimas. Depois do “penso, logo existo” e do “produzo, logo existo”, apresento-lhes o: “sou visto, logo existo”, ou sua variação: “causo inveja, logo existo”.
Que inveja!

sexta-feira, setembro 15, 2006

Vida aos pedaços (conto)



Era um crepúsculo chuvoso de segunda-feira, no mês de setembro de 2023.
Sentado em frente à tela multimídia assistindo televisão, pés ao ar, Guilherme revelava em lampejos esparsos risos silenciosos, exatamente da maneira como o faz somente nos momentos em que se encontra sozinho, e há que se dizer, na maioria das vezes ele se encontra sozinho.
No canal de televisão passa um programa de entrevistas que está arrebentando recordes de audiência. Os entrevistados, pessoas comuns, relatam experiências quaisquer de suas vidas anônimas, subitamente galvanizadas de renome fugaz. São entrevistas que duram dez minutos, e dezenas de pessoas são entrevistadas diariamente.
A convidada de hoje chama-se Fernanda, que, timidamente, inicia o depoimento relatando trivialidades de sua vida. A entrevistadora, com seu “sorriso permanente” e destilando um certo embaraço, pede à garota algo “mais interessante”, segundo suas palavras.
A timidez perde espaço para a empolgação e as palavras parecem mais leves em sua boca, e no intuito de atender ao pedido da entrevistadora, Fernanda relata agora suas viagens ao redor do mundo. Enquanto fala, seus lábios formam um longo e sôfrego sorriso, claramente rejubilando-se com aquele aguardado momento.
Eis que surgem os comerciais obrigatórios. E no menu interativo - perfil de interesses de Guilherme: informática, eletrônicos, viagens virtuais, meios de tranporte e mulheres sensuais: “Viaje para onde quiser, sem sair de casa. Visite as cordilheiras do Himalaia, as pirâmides do Egito nos tempos dos faraós. Presencie, às margens do Ipiranga, a proclamação da república”.
Guilherme havia acabado de encerrar a última reunião do dia, via conferência multimídia. É funcionário de uma empresa fabricante de sistemas biométricos para identificação de íris, utilizados em portarias, portões eletrônicos, centrais multimídias, automóveis, contas bancárias. Tecnologia útil para toda e qualquer personalização de acesso, seja ele físico ou virtual.
Lá fora, as ruas sem pedestres, sem carros. Nelas sobraram apenas os mentecaptos, loucos, vadias, vadios, párias, gatos estropiados, aventurando-se por entre a cidade sem vida, excluídos do convívio digital.
Aciona pelo comando de voz o noticiário e logo aparecem em sua tela corpos de crianças mutilados por um psicopata qualquer. Guilherme as observa com olhos de familiaridade. Em seguida, as últimas notícias do torneio de tênis de Madri, os resultados dos jogos de futebol de todo o mundo, as atrações do final de semana em Nova York.
Os peixes no aquário nadam freneticamente numa busca incessante pelas dimensões mais distantes do aquário. As bolhas de ar emergem na superfície e se dissolvem em súbitas explosões como num manifesto de emoções afogadas.
No céu estrelado, estrelas cadentes entregam-se resignadamente aos seus destinos e constróem uma paisagem essencial. Aqui na terra, destinos humanos cruzam-se e comunicam suas solidões mudas.
Guilherme agora joga videogame e vive ali uma vida inteira. Decide o destino frio daqueles personagens, inúmeros personagens entre tramas frenéticas e despedaçadas. Entrega suas emoções ao controle do videogame: morre, atira, mata, vence, explode, perde, vive. Decisões a cada milésimo de segundo, em aventuras por entre os mais inóspitos lugares e tempos variados. Entre as ruas de Londres, entre o subúrbio da Colômbia, entre as modernas ruas de Pequim.
O botão desliga aquela vida virtual e o repouso lhe chama de algum lugar, mas Guilherme não consegue dormir. Liga a tela e confere a imensa lista de amigos, alguns estão ainda acordados, mas não se sente à vontade para lhes falar de seus tormentos. Sente-os distantes, muito distantes, como se as distâncias tivessem aumentado estupidamente.
Liga a televisão novamente, mas nenhum canal lhe chama a atenção. Como num déjà vu total, tem a sensação de que já havia vivido tudo o que lhe afigura diante dos olhos, condenado a ver as mesmas coisas infinitamente, e desta vez, Guilherme sente medo. Medo do desencantamento, da extinção da razão de existir. Como se alguém pudesse encontrar alguma em absoluto.


FIM

sexta-feira, setembro 08, 2006

Impressões àqueles que se impressionam (divagações)

Hoje venta frio lá fora.

Queria lhes contar de uma febre. Não uma febre física, mas uma febre que atordoa a percepção, e nos faz perceber tudo diferente, como quando estamos mergulhados em uma paixão avassaladora, ou quando fomos arrebatados por uma forte emoção, tão alegre ou tão trágica que nem sabemos ao certo como reagir.
No conforto do sofá, num dia em que, repentinamente, o sol quente e o calor deram lugar ao vento frio, já tarde da noite, após ter assistido no cinema (e isso muito importa para um filme de visual tão alucinante) Miami Vice.
Trata-se de cinema de temática e orçamento da grande indústria, absolutamente, com seus astros do mainstream, distribuição maciça, e roupagem de blockbuster. Não há dúvida. Mas há algo nesse filme que me manchou a percepção das coisas, como se minha visão estivesse submetida a um filtro interior, que ritmasse meu fluxo de consciência de forma incomum. Tudo isso vem fortalecer a crença de que a arte é algo que nos atinge em nossa essência de seres humanos civilizados e embebidos culturalmente.
Vejam bem; não me interessam thrillers com suas tomadas espetaculares de carrões em alta velocidade e suas cenas exageradamente vertiginosas de ação. Embora Miami Vice tenha esses ingredientes, seus personagens sofrem e expressam emoções que nos amparam da dor existencial. Talvez nos identificamos com suas dores diante do absurdo da existência (que Camus tão bem expressou). Nos identificamos com algo que nos fere, é a dor dele que nos dói, mas que afinal nos revela a beleza e nos faz sorrir muito intimamente. Aquilo que só uma febre como a da experiência artística nos faz experimentar...

quarta-feira, agosto 30, 2006

Tempo de crise

Eu-Texto tenho vida própria.
Eu poderia citar os mais diversos argumentos para defender minha autonomia, inclusive é pungente minha indepedência em relação ao autor, uma vez que o elo primordial do ato somente se consuma com o leitor. Digo mais: ambos, autor e leitor, assumem papéis igualmente essenciais, ainda que, em dias tão individualistas, o leitor tenha passado por dias difíceis, sentindo-se inferior e inseguro diante de tantos holofotes jogados em cima do autor.
Há quem diga que meu despertar auto-consciente somente se tenha dado a fim de que eu possa, digamos, colocar as coisas em seus devidos lugares. Mas deixarei por ora essa questão de lado, haja vista que eu me sinto forçado, antes de mais nada, a defender minha própria condição. E antes que eu prossiga em minha defesa, tenho que admitir que isso tudo encerra, ao menos para mim, uma questão inabrandável: Meu grito existencial não seria o ato individualista por excelência?
Você leitor, terá que chegar à sua própria conclusão.
De qualquer maneira, eis minha defesa: Um texto literário, penso Eu-Texto, é uma forma de comunicação com você leitor, que estabelece um vínculo profundo, pois esse vínculo é também constituído por sua própria consciência que confere à mim peculiaridades de sua natureza. Eu e você formamos uma simbiose indissociável de nossas individualidades.
Não me venham meus concorrentes, quais sejam quaisquer outros objetos que possam ser apreendidos por seu conhecimento, me acusar de auto-promocão e de arrogância. A televisão, obviamente que também enquanto é apreendida por você, carrega os traços de sua personalidade, entretanto, é tudo muito mais acabado, e a facilidade que primeiramente possa te cativar, acaba por limitar seu poder de imaginação.
Fui longe demais, dirão alguns.
Com a minha experiência, que tenho tratado esses anos todos com os mais diversos homens, escritores e leitores, eu diria que, ainda que hajam outras formas de comunicacão – verbalizada, visualizada, ouvida, e outras que misturam os dois anteriores, os três ao mesmo tempo – eu estabeleça relações mais intelectualizadas.
Sou também mais democrático, atendo aos pobres, aos ricos, aos hipócritas, aos justos, aos mentirosos, aos ditadores, enfim, a todos aqueles que pensam, pois mesmo os analfabetos podem ser autores de mim, basta que alguém escreva as palavras ditadas.
Para aqueles que estejam jogando baixo comigo, pensando em termos artísticos, nas outras formas de arte; uma vez me escreveu Hegel de mim:
“ ... a Plástica é o signo do Espírito. Ela exprime a vida criadora, mas paralisada pelo tempo e pelo espaço. A música, ao contrário, revela-nos diretamente o movimento íntimo da alma, com seus desejos e sentimentos eternos e sua aspiração ao infinito. A poesia, finalmente, é a Música plástica. Ela pinta e esculpe por meio de frases dotadas de mobilidade e por sons que se sucedem, harmoniosamente ritmados. Ela é a arte suprema e exprime o pensamento por imagens.”
Se você me achar um pouco maçante, perdoe-me, é que senti uma irresistível vontade de falar de mim... pois desde que me descobri enquanto tal, tenho sentido uma certa angústia indefinida por palavras escritas.

quarta-feira, agosto 23, 2006

Prólogo do livro inexistente

O “Estórias Brutas e Curtas de uma Sociedade Decadente” contem algumas estórias cáusticas e outras nem tanto. O título e as tragédias aqui narradas trazem consigo um perigo latente assumido: um verniz de arrogância e pessimismo incorrigível. Para suavizar tal perigo, principio utilizando-me de um artifício um tanto quanto óbvio, mas nem por isso desnecessário.
Esclareço que não deixo de assumir muitos dos traços - que a princípio possam parecer repugnantes – dos personagens que ganham vida nas páginas deste livro. Digo a princípio, pois são traços que almejam a beleza da imperfeição humana, que assumem sem temor seu caráter eminentemente humano, como diz o título nietzschiano: “Humano, demasiado Humano”.
Não nego também um desejo de desestabilizar, pois um ser - seja ele uma sociedade, ou, ainda, uma única pessoa – somente quando se vê envolto em inúmeros questionamentos, arrisca-se nos tormentos da evolução.
De maneira alguma alimento uma visão utópica da sociedade, ocorre que nossa essência é constituída de um impulso que nos impele a buscar incessantemente a evolução. É como se vivêssemos o amadurecimento do gênio da espécie: transpostos os obstáculos materiais (ou pelo menos, aparelhados de inumeráveis ferramentas para isso), enfrentamos agora os obstáculos do espírito.
Nos deparamos diante de uma terrível epidemia depressiva. Infindáveis patologias da psique são diagnosticadas a cada dia, e os jovens (e aqui me incluo) nunca consumiram tanta droga como nos dias de hoje. É evidente que nesse ponto os arroubos imediatistas e a era do consumismo colaboraram para o alastramento desta busca frenética por prazer imediato.
Há muito se diz que vivemos a era da pós-utopia. Somos a geração perdida num caos atemporal, desprovida de padrões, minada por uma terrível ofensiva de informações e sufocada por uma ansiedade que entorpece lentamente, como o cigarro que intoxica dia-a-dia o fumante.
Não se trata aqui da sentença emitida por aquele que, de seu plano superior e orientado por nobres valores, aponta as deformidades do outro, para um lugar fixo. Não! O personagem Carlos, do conto “A silhueta de Narciso”, que inclusive, no mais não passa de uma estória repleta de clichês, é a mais simplória imagem da vaidade do intelectual revoltado e ferido por uma sociedade que primeiro negou-lhe seus prazeres, e depois negou-lhe os valores que ele aprendeu a valorizar, à custa daquela primeira negação.
Independente de qualquer mesquinhez, convido-o, leitor, a refletir comigo acerca de comportamentos típicos da atualidade. Talvez eu tenha cometido equívocos, exageros, ou tenha me deixado levar por algum ressentimento de alguma de minhas frustações. É provável! Apesar de tudo, sei que tudo isto servirá de algo, pois os livros, todos eles, sempre servem.
A publicação deste livro jamais pretendeu salvar nada nem ninguém. É apenas o reflexo de minhas frustações e devaneios, e então, uma centelha da luz que forma a imagem nesse espelho crítico em que a sociedade se reconhece.
Afinal, o livro inexistente é aquele que contêm em si, potencialmente, todos aqueles livros que poderiam ter sidos escritos.
O livro que teria esse prólogo, nasceu e morreu em minha imaginação, ele existiu enquanto minha abstração. Eis as idéias!

quarta-feira, agosto 16, 2006

Quem é você?

“As pessoas não apenas têm a impressão de que as possibilidades de encontrar satisfação na vida são infinitas, como também são encorajadas a ser uma espécie de inventoras de si mesmas, isto é, elas são supostamente livres para escolherem quem querem ser. Mas, nessa sociedade altamente individualizada, que prioriza as liberdades individuais sobre as causas de um grupo, o indivíduo enfrenta um ansioso e provocante dilema: Quem eu sou para mim mesmo?” Renata Salecl em “Sobre a felicidade: ansiedade e consumo na era do hipercapitalismo”.

São tantas as possibilidades e as opções, tantos os estilos de vida ofertados, tantas as máscaras que usar e tantos os modelos em que se encaixar. Você, certamente, se interessa pelos mais variados assuntos e temas. E isto, de uma forma que não saberia explicar, lhe causa sensações opostas de angústia e euforia.
Hoje, por exemplo, qual o assunto que procura? O que está buscando? Notícias de lugares longínquos, de cidades da região, vizinhas, de outros planetas?
Talvez esteja interessado nos resultados dos jogos do final de semana. Uma receita de Chowder de Mariscos da Nova Inglaterra? Hum, sei. Está sim procurando, o que dizem os ensinamentos do Feng Shui, sobre a posição certa de colocar a cama e o espelho em relação à porta de seu quarto, e o efeito das cores das paredes sobre nossa saúde.
Talvez queira notícias sobre a queda da Nasdaq, o valor do Kwanza em relação ao dólar e a taxa de natalidade em Luanda. Poderíamos falar da safra da soja, da produção de girassóis em Holambra, da incipiente produção de biodiesel como combustível alternativo.
E se você for um velho senil, apenas interessado no valor do banho-tosa para o seu fiel companheiro? Aí talvez você também esteja interessado no destino dos seus sobrinhos-netos, filhos daquela sua paixão da juventude que sua avó proibiu por ter o inexorável defeito de ser seu primo de primeiro grau.
Desconfio que você seja um dentista procurando um curso de aperfeiçoamento em Cirurgia e Traumatologia Buco-maxilo-facial. Desculpe, a essa hora você não está procurando nada que tenha a ver com sua profissão, quer apenas se distrair com qualquer porcaria como esta.
Pode ser que você esteja passeando pela europa, no melhor estilo mochilão, tenha parado num cyber café, se conectado ao “messenger”, todo animado para conversar com seus amigos que ficaram, contar da noite passada.
Pode ainda ser que você seja o amigo que não foi viajar, pois não tinha tempo, muito menos dinheiro, ficou aqui para trabalhar, ainda mais agora que você se apaixonou pela recepcionista. Há uma possibilidade, e a isso ninguém pode se contrapor, de que você seja o patrão deste último, porque é certo de que se ele ficou trabalhando é porque tem um patrão, e esse pode ser você, que está navegando pela internet, depois de mais uma discussão com aquele sócio com quem você tanto se empolgou no começo da sociedade, e que agora parece ser a pessoa no universo com a qual você menos tem afinidades, tanto profissionais como pessoais.
Talvez seja um dia chuvoso, e por qualquer motivo, ainda que o próprio fato de estar chovendo seja o motivo mais óbvio, não sabe bem por que não sente a mínima vontade de sair de casa.
Está procurando ler qualquer coisa mesmo, qualquer coisa que te sirva, não no sentido de utilidade prática, mas que te sirva nem que seja apenas no exato momento em que está lendo.
Está à procura de fotos de mulheres nuas, óbvio demais para uma pessoa tão interessante como você. Óbvio demais até para ser considerada uma tentativa, minimamente interessante. Desculpa!

quinta-feira, agosto 10, 2006

É a lama, é a lama!

Como silenciar diante da atual crise ético-político-social? É merda para todo lado!
Se antes sabíamos que corrupção existia, hoje ela é declarada, e pior, nem ao menos nos sentimos em condições de criticá-la. Não se enganem: o corrupto não é um monstro que olha no espelho e diz: - Hoje vou desviar verba das ambulâncias, foder a vida de milhares de enfermos, deixá-los na mão, pois não estou nem me lixando para todo esse "povo" que vive na lama. Estou preocupado é com meu bolso. Otários!
Não é assim! Ele é como eu ou VOCÊ, quando você deu aquele golpe na seguradora de seu carro, como quando arrumou aquele bom emprego no serviço público para um amigo (mas que era um bom profissional), quando comprou aquele toca-fitas roubado, etc... Tudo isso, lógico, porque não dá para sobreviver de outra maneira. Somos todos corruptos!
Tragédia dos Comuns: o que eu faço, tem uma mínima repercussão, mas todos pensando assim, vira essa merda em que estamos metidos!
Vivemos o sentimento de: "cada um por si". E cada um usa das armas de que dispõe. O PCC é reflexo de anos de descaso de todos nós com a desigualdade e situação social. O governador Lembo jogou a culpa em cima da classe média que trata mal seus empregados. A elite intelectual do país, leia-se, artistas, jornalistas e outros, criticaram mordazmente tal afirmação. Vejo nessa afirmação dois lados. Se por um lado é verdade que o governador demonstrou mais uma vez nossa mania de jogar a culpa das mazelas nos outros, e ainda, excluiu a culpa dos próprios desfavorecidos, por outro lado, parece-me, ao menos, um indício de que a classe média começa, timidamente, a realizar a saudável auto-crítica. Marcelo Tas, em seu blog, acusou o governador de hipócrita. Se admite sua culpa, é hipócrita, se nega, é arrogante. Suspeito que haja outras cores a pintar a realidade que não somente o preto e o branco.
Diante do descaso de uns, arrogância de outros, visão achatada de muitos, difícil vislumbrar uma solução. É a lama, é a lama!

segunda-feira, agosto 07, 2006

Poesia? Que nada!

À Merda!

Observe estas palavras gastas: Eu sou! Não sei se as acho... ridículas ou magníficas...
Quem pode me dizer, quem sou? Então, do que me importa... o que eu não sou?
Chega! Chega de hipocrisia, de sonhos juvenis, de teorias econômicas, de ideologias políticas, de dialética marxista, de psicodelias tardias... à merda com a consciência ambiental!
Às vezes, andando por aí, observando pessoas, milhares delas caminhando eretas, olhar fixo no horizonte, homens de três bocas, mulheres de seis peitos... algumas falando... falando... falando sem parar.. . passa pela minha cabeça, que ainda que estejam caminhando... sorrindo... comprando... trabalhando... transando... fodem como a galinha que se move em espasmos sem vida!
E os celulares então! Tocando... tocando... em todos os lugares... nos carros em trânsito... nas igrejas em júbilo... à toa nos bares... na cabeceira da cama ao lado onde dois corpos ardem... não servem para comunicar!
À merda com os produtos light, diet, os leites desnatados...
Quero distância dos sucos de abacaxi com hortelã, das academias de robôs, de yoga de manhã...
À merda com os sem-terra, Che-Guevara, Almodóvar... vinhos californianos...seriados americanos, à merda!
Niilismo? Será o niilismo uma teoria ou uma atitude?
Ah, à merda com as teorias também.
Ah, e já ia me esquecendo... à merda também com estas letras mal escritas!