“Comer bem na companhia de amigos inteligentes é o que há de mais civilizado; cria uma aproximação que torna a vida mais agradável, pelo aprendizado e pelo humor, e em que jamais falta respeito à individualidade. A arte da conversação tem se deteriorado, devido à pressa e ao narcisismo dos tempos. Ontem, felizmente, pude presenciá-la durante quase quatro horas, jantando no Allez, Allez!, restaurante merecidamente considerado a revelação do ano pela "Vejinha". Se eu estivesse sozinho e chateado, os ótimos pratos já seriam motivo para despachar a possibilidade de maus eflúvios mentais. Mas, como nos filmes de Woody Allen e livros de Louis Begley, os prazeres do paladar dão a senha para uma química entre corpo e palavra, para uma forma especial de convívio - aquela que não passa nem pela submissão ao coletivo nem pela agressão do egoísmo. Restaurar é preciso.” Texto extraído do blog do Daniel Piza, cujo link se encontra nessa página.
Não é de hoje que encontro com pessoas que adoram conversar, mas adoram tanto, que a conversa logo se transforma em um monólogo narcisista. Aliás, não se engane, são seletivos com sua platéia; não é para qualquer um que eles desejam vomitar sua verborragia... há os escolhidos para presenciar o espetáculo.
Não é de hoje que encontro com pessoas que adoram conversar, mas adoram tanto, que a conversa logo se transforma em um monólogo narcisista. Aliás, não se engane, são seletivos com sua platéia; não é para qualquer um que eles desejam vomitar sua verborragia... há os escolhidos para presenciar o espetáculo.
Concordo com o título do texto do Piza: “Comer e conversar, uma mesma arte”, e para aqueles que se esqueceram que conversar tem uma dinâmica de troca, em que um fala, outro ouve, outro fala, um ouve, fala, fala, outro ouve, ouve, outro fala, um ouve, e fala, lembrar-lhes-ei que a arte de comer também subentende “troca” e não um espetáculo para demonstrar o quanto “ele cozinha bem”, “entende de vinho” ou “sabe como ninguém apreciar uma boa comida".
O pior é que o narcisista patológico (que me perdoem os psicólogos, estou eu também metido a diagnosticar patologias psicológicas) acaba por não conhecer o outro, pois ele não ouve a opinião dos outros e não conhece o paladar dos outros, pois quando o outro ia começar a falar, as cortinas se fecharam.
O pior é que o narcisista patológico (que me perdoem os psicólogos, estou eu também metido a diagnosticar patologias psicológicas) acaba por não conhecer o outro, pois ele não ouve a opinião dos outros e não conhece o paladar dos outros, pois quando o outro ia começar a falar, as cortinas se fecharam.
E não é só isso. A ânsia de ser o centro das atenções, de ser invejado para existir e suas variações, revela uma angústia que é característica de uma sociedade desumana, na qual as fraquezas são evitadas até a última instância, ou ainda, são consideradas somente em relação ao outro.
A frase também citada no referido blog: “livre das úlceras que vêm da preocupação com uma dieta balanceada”, de A.J. Liebling, também é pertinente para a questão, já que hoje presenciamos um verdadeiro império da vida saudável. É a típica frase que eu gostaria de ter escrito.