quarta-feira, setembro 30, 2009

Tempo de crise

Eu tenho vida própria.
Eu poderia citar os mais diversos argumentos para defender minha autonomia, inclusive é pungente minha indepedência em relação ao autor, uma vez que o elo primordial do ato somente se consuma com o leitor. Digo mais: ambos, autor e leitor, assumem papéis igualmente essenciais, ainda que, em dias tão individualistas, o leitor tenha passado por dias difíceis, sentindo-se inferior e inseguro diante de tantos holofotes jogados em cima do autor.
Há quem diga que meu despertar auto-consciente somente se tenha dado a fim de que eu possa, digamos, colocar as coisas em seus devidos lugares. Mas deixarei por ora essa questão de lado, haja vista que eu me sinto forçado, antes de mais nada, a defender minha própria condição. E antes que eu prossiga em minha defesa, tenho que admitir que isso tudo encerra, ao menos para mim, uma questão inabrandável: Meu grito existencial não seria o ato individualista por excelência?
Você leitor, terá que chegar à sua própria conclusão.
De qualquer maneira, eis minha defesa: Um texto literário, penso eu-texto, é uma forma de comunicação com você leitor, que estabelece um vínculo profundo, pois, esse vínculo é também constituído por sua própria consciência que confere à mim peculiaridades de sua natureza. Eu e você formamos uma simbiose indissociável de nossas individualidades.
Não me venham meus concorrentes, quais sejam quaisquer outros objetos que possam ser apreendidos por seu conhecimento, me acusar de auto-promocão e de arrogância. A televisão, obviamente que também enquanto é apreendida por você, carrega os traços de sua personalidade, entretanto, é tudo muito mais acabado, e a facilidade que primeiramente possa te cativar, acaba por limitar seu poder de imaginação.
Fui longe demais, dirão alguns.
Com a minha experiência, que tenho tratado esses anos todos com os mais diversos homens, escritores e leitores, eu diria que, ainda que hajam outras formas de comunicacão – verbalizada, visualizada, ouvida, e outras que misturam as duas anteriores, as três ao mesmo tempo – eu estabeleça relações mais intelectualizadas.
Sou também mais democrático, atendo aos pobres, aos ricos, aos hipócritas, aos justos, aos mentirosos, aos ditadores, enfim, a todos aqueles que pensam, pois mesmo os analfabetos podem ser autores de mim, basta que alguém escreva as palavras ditadas.
Para aqueles que estejam jogando baixo comigo, pensando em termos artísticos, nas outras formas de arte; uma vez me escreveu Hegel de mim:
“ a Plástica é o signo do Espírito. Ela exprime a vida criadora, mas paralisada pelo tempo e pelo espaço. A música, ao contrário, revela-nos diretamente o movimento íntimo da alma, com seus desejos e sentimentos eternos e sua aspiração ao infinito. A poesia, finalmente, é a Música plástica. Ela pinta e esculpe por meio de frases dotadas de mobilidade e por sons que se sucedem, harmoniosamente ritmados. Ela é a arte suprema e exprime o pensamento por imagens.”
Se você me achar um pouco maçante, perdoe-me, é que senti uma irresistível vontade de falar de mim... pois desde que me descobri enquanto tal, tenho sentido uma certa angústia indefinida por palavras escritas.

segunda-feira, setembro 07, 2009

Mais umas impresssões... : Brasília

07 de setembro de 2009:

11:59 hs: Um mundo menos neurótico seria menos corrupto.

Estive em Brasília na última semana pela primeira vez desde a infância. Afora o projeto arquitetônico de Niemayer, a impressão que ficou é de uma cidade brega. Só lá há um restaurante pretensioso com almofadas de oncinha e zebrinha nos bancos acolchoados das mesas.

O estigma e preconceito de cidade de funcionários públicos e políticos e ratos de gabinete e outros oportunistas se confirma em parte. Curioso como essas figuras agregam o vazio ético e moral ao seu aspecto físico – gordos de ganância e pobres em beleza. São apressados e não perdem tempo divertindo-se – trabalham muito mais que todos os outros, pois não vêem graça em nada mais.

Em minha última noite, na quarta-feira, quando fui conhecer tarde da noite o terraço do hotel que me disseram dava uma bela vista da cidade, conheci um senhor muito rapidamente que me tocou. Raro - um homem aberto para o outro, para os encontros – e conversamos por apenas 10 minutos naquele terraço sobre a cabeça de tantos ratos que se hospedavam naquele velho hotel em Brasília.