segunda-feira, fevereiro 25, 2008

O homem indignado - I

- Até que eu aguento bastante, mas tem hora que não dá. Dizem que sou revoltado, que sou radical; talvez exagere, ou será que são os outros que exageram na alienação. Vejamos:

As pessoas utilizam sua capacidade de discernimento e reflexão apenas para 2 coisas: ganhar dinheiro e consumir... Veja bem: não é por outro motivo que a economia mundial vem crescendo tanto, uma vez que depende, basicamente, do binômio trabalhar/consumir.

Com toda a energia e capacidade focados nessas atividades, o resultado são coisas fantásticas para comprar; ou alguém aí vai negar que os designs dos carros não são realmente lindíssimos ou que não gostaria de ver sua mulher utilizando os aparatos “fique gostosa” que as celebridades usufruem. Sim, comprando os aparatos “fique gostosa”, mulheres de feições obscuras, tortas, de rosto ou de postura; após alguns exercícios, maquiagens, roupas, sapatos “sou sexy” e uma cara de “quero dar” e, óbvio, algumas cirurgias, tornam-se belas mulheres fatais com andar confiante.

O que também prolifera são verdadeiros consumistas profissionais: além de já ter destravado o iphone para uso aqui no Brasil assim que foi lançado nos E.U.A., instalou todos os joguinhos e truquezinhos que o transformou em um "mágico do iphone". Seus números compreendem um gole de cerveja direto do iphone ou a visão radiográfica dos nossos ossos com a tela do aparelho: basta comprar - temos um show man! O consumista antenado conhece os melhores lugares para comprar de helicopteros a dvd´s piratas.

E a reflexão e o senso crítico não atinge o próprio consumo, e enfim, se vê com um off-road de última geração, de suspensão inteligente, com tração nas 4 rodas, literalmente impotente diante de quilometros de trânsito. No guarda-roupas, para cada 5 peças adquiridas e jogadas ali, 4 nunca sequer chegam a ser utilizadas...
Opta-se muito, escolhe-se pouco; pois ouve-se a música que lhe colocaram, para o cinema foi mais para comer pipoca do que para ver o filme, para o teatro foi uma vez na vida para poder dizer que já foi.
O que me resta? Só matando!

quinta-feira, fevereiro 21, 2008

De madrugada, num refeitório qualquer de uma multinacional qualquer...

De madrugada,
num refeitório qualquer de uma multinacional qualquer, funcionários comem diante de uma parede que retrata a paisagem de uma praia, o mar e os coqueiros óbvios. Por quê deste retrato? Sim, um ambiente descontraído na hora das refeições, após 4, 5 ou sei lá quantas horas fazendo força, concentração, e muita disciplina (é uma multinacional alemã).
Não,
eles nem sequer olham para a parede, apesar de - para a maioria deles - ser a única paisagem naquele tamanho "quase" natural de uma praia que já tenham visto.
Na televisão,
passam programas obscuros pelos quais eles também não se interessam.
De manhã,
ou já à tarde, eles acordarão: como serão suas rotinas?

sexta-feira, fevereiro 08, 2008

No carro...

Mas é no carro que a reflexão ganha impulso... Sempre há quem diga que é o tempo que se passa na estrada que se encontra a oportunidade para pensar na vida, etc...

Talvez seja a dispersão absoluta da atenção diante das coisas passando, o efêmero contínuo e a ausência do desafio de se estar diante de uma realidade estática; e assim, com os olhos correndo as coisas exteriores, o pensamento percorre nosso turbilhão interior.

Eu sempre quis escrever um texto sobre essa experiência, pois ao volante passei e repassei momentos marcantes, e talvez até tenha sido o lugar em que mais derramei lágrimas - lágrimas arrancadas! É o palco perfeito para a dramatização da banalidade de nossas vidas, entre o escritório e o almoço, entre a casa e a padaria.

Aliás, certamente o carro é hoje o lugar preferido pelas pessoas para ouvir música. Eu, por exemplo, aprendi a gostar de música bem cedo, aos meus 11 ou 12 anos - mas a partir do momento que passei a dirigir, é no volante que descobri gêneros, e com as mãos ao volante nasceram as paixões musicais.

Nós e o carro tornamo-nos um só: um bólido musical e ardente em reflexões!