domingo, maio 18, 2008

Uma poeta

Vou colocar um poema de uma autora pouco conhecida de nós brasileiros: Wislawa Symborka. Sim, seu nome é impronunciável. Seus textos têm a força da realidade mais simples e direta, e somos confrontados com a terrível verdade de que o mundo e as coisas independem de nós. Desta forma, ainda que ninguém acesse este blog, para ninguém divulgo sua poesia:

A alegria de escrever:

Para onde corre este servo escrito na floresta que escrevi?
É para beber da água escrita,
que desenha seu focinho?
Por que ele ergue a cabeça, escutou algo?
Apoiado nas quatro patas emprestadas da verdade
ele apura as orelhas sob meus dedos.
Silêncio - essa palavra ressoa na textura do papel
e afasta os galhos
que brotam da palavra floresta.

Sobre a folha em branco há letras espreitando
que podem tomar o mau caminho
formando frases ameaçadoras
das quais nada escapa.

Em cada gota de tinta há um bom estoque
de caçadores de olho na mira,
prontos a descer pela caneta íngrene,
cercar o cervo e apontar armas.

Eles esquecem que aqui não há vida de verdade.
No preto-e-branco vigem outras leis.
Um piscar de olhos durará o tempo que eu quiser
e poderá ser dividido em pequenas eternidades,
cada uma com chumbo suspenso em pleno vôo.
Aqui nada acontecerá sem meu aval.
Contra minha vontade, nem uma folha cairá
e nem uma grama se dobrará sob o casco do cervo.

Então não existe um mundo
onde eu possa impor o destino?
Um tempo que eu teço com uma corrente de sinais?
Um existência que, a meu comando, não terá fim?

A legria de escrever.
O poder de preservar.
Vingança de uma mão mortal.



Não há nenhuma edição em português lançada no Brasil. Há uma edição portuguesa...

2 comentários:

Anônimo disse...

Eu acesso, eu acesso!!

Anônimo disse...

Tenho uma edição da Szymborska em inglês, fantástica essa poeta polonesa. Meus preferidos são Conversation with a Stone e Nothing twice (estão no meu blog, em algum lugar).
Abraço.