Vou colocar um poema de uma autora pouco conhecida de nós brasileiros: Wislawa Symborka. Sim, seu nome é impronunciável. Seus textos têm a força da realidade mais simples e direta, e somos confrontados com a terrível verdade de que o mundo e as coisas independem de nós. Desta forma, ainda que ninguém acesse este blog, para ninguém divulgo sua poesia:
A alegria de escrever:
Para onde corre este servo escrito na floresta que escrevi?
É para beber da água escrita,
que desenha seu focinho?
Por que ele ergue a cabeça, escutou algo?
Apoiado nas quatro patas emprestadas da verdade
ele apura as orelhas sob meus dedos.
Silêncio - essa palavra ressoa na textura do papel
e afasta os galhos
que brotam da palavra floresta.
Sobre a folha em branco há letras espreitando
que podem tomar o mau caminho
formando frases ameaçadoras
das quais nada escapa.
Em cada gota de tinta há um bom estoque
de caçadores de olho na mira,
prontos a descer pela caneta íngrene,
cercar o cervo e apontar armas.
Eles esquecem que aqui não há vida de verdade.
No preto-e-branco vigem outras leis.
Um piscar de olhos durará o tempo que eu quiser
e poderá ser dividido em pequenas eternidades,
cada uma com chumbo suspenso em pleno vôo.
Aqui nada acontecerá sem meu aval.
Contra minha vontade, nem uma folha cairá
e nem uma grama se dobrará sob o casco do cervo.
Então não existe um mundo
onde eu possa impor o destino?
Um tempo que eu teço com uma corrente de sinais?
Um existência que, a meu comando, não terá fim?
A legria de escrever.
O poder de preservar.
Vingança de uma mão mortal.
Não há nenhuma edição em português lançada no Brasil. Há uma edição portuguesa...
A alegria de escrever:
Para onde corre este servo escrito na floresta que escrevi?
É para beber da água escrita,
que desenha seu focinho?
Por que ele ergue a cabeça, escutou algo?
Apoiado nas quatro patas emprestadas da verdade
ele apura as orelhas sob meus dedos.
Silêncio - essa palavra ressoa na textura do papel
e afasta os galhos
que brotam da palavra floresta.
Sobre a folha em branco há letras espreitando
que podem tomar o mau caminho
formando frases ameaçadoras
das quais nada escapa.
Em cada gota de tinta há um bom estoque
de caçadores de olho na mira,
prontos a descer pela caneta íngrene,
cercar o cervo e apontar armas.
Eles esquecem que aqui não há vida de verdade.
No preto-e-branco vigem outras leis.
Um piscar de olhos durará o tempo que eu quiser
e poderá ser dividido em pequenas eternidades,
cada uma com chumbo suspenso em pleno vôo.
Aqui nada acontecerá sem meu aval.
Contra minha vontade, nem uma folha cairá
e nem uma grama se dobrará sob o casco do cervo.
Então não existe um mundo
onde eu possa impor o destino?
Um tempo que eu teço com uma corrente de sinais?
Um existência que, a meu comando, não terá fim?
A legria de escrever.
O poder de preservar.
Vingança de uma mão mortal.
Não há nenhuma edição em português lançada no Brasil. Há uma edição portuguesa...
2 comentários:
Eu acesso, eu acesso!!
Tenho uma edição da Szymborska em inglês, fantástica essa poeta polonesa. Meus preferidos são Conversation with a Stone e Nothing twice (estão no meu blog, em algum lugar).
Abraço.
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